PAPO FROUXO
Há muito não se visitavam. A afinidade entre eles era, na hipótese mais generosa, nenhuma. Sempre fora assim. Não haveria de mudar com o tempo. Quando se encontravam em festas, a convivência era mais fácil. Muita gente, alguma bebida, nenhum compromisso de falar sobre isso ou aquilo. Cara a cara, apartados da multidão, a coisa muda – para pior.
Passados os primeiros dez minutos, os dois casais já sabiam que, ao menos no discurso, estava tudo bem com todos, que a doença da tia Maria só fazia piorar etc. O silêncio se impôs, para o constrangimento dos cinco. Cinco? Cinco. Até o cão não conseguia esconder seu desconforto.
O marido da dona da casa, sabedor da língua de trapo da prima, resolveu facilitar as coisas:
-- E aí, gente. Vamos falar mal de quem?
A noite continuou chata. Mas, apressado, o silêncio saiu pela janela.