#clubedaluluzinha
- Vou ao banheiro. Vem comigo Débora?
Essa história de levar amiga ao banheiro é algo que sempre intrigou os homens. Pra que raios uma mulher precisa levar acompanhante para uma atividade tão trivial e íntima quanto ir ao banheiro?
Mulheres, bem sabemos, são capazes de provocar guerras e revoluções, como já demonstraram Cleópatra e Helena de Tróia, então é pouco razoável imaginar que realmente precisem de ajuda para tão rotineira tarefa. Sempre desconfiamos que quisessem mesmo um pouco de privacidade para falar das amigas ou dos homens. Seja como for, a conversa acabava confinada às quatro paredes sepulcrais do banheiro, sem maiores repercussões.
O lançamento recente no Brasil de um novo aplicativo para computador e smartphones parece mudar de vez esse cenário. Trata-se do Lulu, no qual mulheres podem avaliar publicamente os homens, a partir de perfis importados do Facebook, mantendo o anonimato de suas identidades.
A novidade mal começou a operar no país e já tem incomodado muita gente, como um usuário já recorreu à justiça para remover as avaliações (nada lisonjeiras) postadas no site.
Para os homens, a ideia do aplicativo pode parecer assustadora. Você conhece uma garota na balada, ela te adiciona no Facebook (um rito social contemporâneo) e em segundos pode acessar o aplicativo onde suas amigas, conhecidas ou ex-namoradas postaram anonimamente avaliações sobre você.
Tenho visto muita gente (homens, principalmente), reclamando, com alguma justiça, da futilidade do aplicativo. Mas antes que os homens se arvorem em críticas ao universo feminino pela eventual adesão à ideia, é bom lembrar que em matéria de discrição jamais fomos exemplos de nada. São os homens que costumam publicar vídeos e fotos comprometedoras de suas ex namoradas após o termino da relação, e o próprio Facebook (cujo nome inicial era Facemash) foi originalmente concebido por alguns nerds americanos com o propósito de avaliar suas colegas de universidade, rotulando-as como gostosas ou não (hot or not).
O grande pavor dos homens, seres primitivos que somos, é que venham à tona aspectos pouco elogiosos de nossa performance amorosa ou sexual, algo que parece perturbar mais a nós do que a elas.
Faz tempo que sites populares, como o Tripadvisor, funcionam sob o sistema colaborativo, onde os próprios usuários avaliam os serviços de hotéis, bares e restaurantes. Cada vez mais gente decide suas viagens baseando-se nos rankings de avaliação desses portais.
Mas vai ser muito estranho quando a mesma métrica for usada para escolher amizades, parceiros afetivos e sexuais.
- Não vai rolar Dudu. Só saio com usuários de notas 8.5 para cima.
- Foi mal Lucas, até relevei o lance do pinto pequeno, mas ronco e chulé eu não tolero.
É melhor ir se acostumando. Estamos entrando numa era onde estaremos condenados ao inevitável escrutínio público. O episódio ilustra uma faceta perversa da sociedade hiper conectada em que vivemos, onde a perda de privacidade parece apenas um efeito colateral tolerável (quando não desejável) da abundância de informação disponível sobre tudo, e agora também sobre todos. Vai chegar o momento (e talvez nem tarde) em que a sociedade terá que discutir até onde estará disposta a renunciar à sua privacidade em nome desses novos dispositivos sociais eletrônicos.
O aplicativo é engenhoso, divertido e vai dar o que falar, mas tem seus óbvios limites. Avaliar pessoas será sempre muito mais complicado do que avaliar bares, hotéis ou restaurantes. Gente é diferente de parede, piscina, petisco ou boteco.
Ainda vai demorar muito para inventarem um aplicativo que preveja a pessoa que vai fazer seu coração bater mais forte, suas pernas tremerem e sua respiração ficar ofegante. Nenhum algoritmo inteligente vai ser capaz de decifrar a misteriosa química que há milhares de anos faz gente se apaixonar por gente.
De todo modo, pelo sim, pelo não, acho melhor desabilitar o meu perfil desse famigerado aplicativo…