TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS !

TEMPOS QUE NÃO VOLTAM MAIS !

"Ai, que saudades que eu tenho

da aurora de minha vida"...

CASIMIRO DE ABREU (?) / trecho

"Tenho saudade / do meu tempo de

criança, / já perdi a esperança / de um

dia êle voltar. (...) Ai, ai, ai, ai... / são

belos tempos que não voltam mais"!

ABIEZÉR SILVA (trecho de canção)

Sou de um tempo em que "time de massa" era esquadrão de padeiros ou "pizzaiolos"... um tempo em que crianças e jovens "levavam pito", eram chamadas à atenção por se aproximarem de adultos que estivessem conversando. Os mais velhos viviam num Mundo à parte, vedado aos guris e meninas. Era um tempo de música suave, orquestras aos montes e as "divas" da canção popular sussurravam cantando, exceções à parte. Hoje, cantor ou "cantriz" que não berrar como quem é esfaqueado não tem muitas chances de sucesso. Basta conferir os "estilos" atuais Brasil a fora ou a performance (?!) dos que se classificam nesses "reality shows" musicais tão comuns em nossas TVs.

O Seminário Menor -- onde estudei entre 1965 e 66 -- acabou... na verdade, continua vivo na memória e no coração de quantos lá estudaram. Mas o prédio está inteiro, suponho, a Internet de tanta porcaria e inutilidade nos permite visitá-lo. Virou Colégio São Vicente de Paulo, é lindo e moderno, apesar do fim do campo de futebol e da piscina imensa, no final do terreno. (Confiram no FACEBOOK!) Ao lado do campo havia uma horta, na qual eu trabalhava, colaborando para diminuir a imensa dívida que meu pai tinha com o Seminário lá de Araucária. Numa casinhola criavam coelhos, não lembro se havia galinhas. Do outro lado da estradinha (para o piscinão) ficava o prédio da lavanderia, que eu conhecia bem, o "frequentava" toda semana, levando meu lençol ensanguentado, para ser lavado em separado.

O campo era a legria de quase todos, me parece que na época de São João (em 1965?) foi feita enorme fogueira nele, com direito a batata-doce "torrada" e à animação típica do evento. Mas, nas provas finais, os padres nos liberavam por dia e meio das aulas, a fim de que cada seminarista estudasse como bem entendesse... daí, circulando por todo o campo como formigas (e até dependurados nas árvores próximas) via-se dezenas de jovens falando sozinhos, cadernos à mão, recitando esquemas algébricos, rios da margem direita do Amazonas, declinando verbos latinos ou trechos de livros de Ciências ou Português. Ser um mau estudante era o terror de qualquer aluno e tirar MENOS DE 7 nas matériasnão estava nos planos de ninguém. Hoje, as EPs de boa parte aqui do Pará "se contentam" com notas médias de 3,2 (?!) e se recusam a reprovar qualquer aluno, por pior que seja.

Muitas coisas desapareceram da memória, a forma como eu ía para o Seminário (e voltava dele) é uma delas. Rio Negro, onde morava nas férias, não tinha Estação de trem, embora tivesse trilhos correndo por boa parte da periferia da cidade. Mas, lembro bem de ter viajado de trem, de Araucária para... para onde mesmo? Seria Curitiba?! Talvez tenhamos ido de trem para desfile militar de 1965, o Seminário desfilou entre os militares, embora não tenha havido treino algum antes. Talvez, por isso, os "milicos" simplesmente impediram (em 1966) o SMSVP de desfilar, apesar do uniforme novo que a Diretoria providenciou só para a ocasião. Alguém poderá me informar a razão real para a proibição ?

A cidadezinha de Araucária era um paraíso distante de nossos olhos juvenis... até onde sei nenhum aluno jamais visitou o centro da localidade. Ainda em razão de minha ferida "incurável" na perna -- sarou com 2 semanas de sol carioca -- pude visitar o hospital da cidade e "rodar" num Jeep por suas ruas principais. Tanto o Semina´rio como os Colégos da época não recebiam nenhuma espécie de apoio oficial, nem de Prefeituras e muito menos do Estado... a maioria "fechou as portas" (e as salas de aula), mesmo com excelente Ensino.

Nosso SEMINÁRIO MENOR resistia com doações voluntárias e, me parece, com o repasse de selos usados, endereçados a uma certa "Missões". Talvez por isso nosso SMSVP tivesse por subtitulo 'Congregação da Missão". O ex-aluno Aldo Dallago Jr. me informa que sua cidade enviou perto de 50 jovens para o Seminário, além de sustentar com doações a presença deles (e a minha, que não pagava) no colégio.

De excursões, só lembro de duas: uma para um balneário distante (Rio do Sul? Canoinhas?), que usava a areia de uma praia como "estrada" e precisava aguardar a maré vazante para passar. Tempo perdido... uma chuva fina acabou com o "feriado" e ninguém teve coragem ou vontade para entrar no mar gelado. Também não recordo onde dormiram mais de cem alunos! A outra excursão foi, na verdade, um piqueniquea um Rio próximo, o Iguaçu ou o Negro, que a revista ENTRE AMIGOS registrou em foto, na qual estou, o short do colégio das Freiras, de anos antes, "amarrado" com um cinto qualquer.

Menino macambúzio, não fiz amizades lá... daí, me emocionar por encontrar colegas de sala do Ginasial que, 50 ANOS depois, ainda se lembrem de mim. Sinceramente, creio que a sonhada IMORTALIDADE seja exatamente esta: a MEMÓRIA dos que conhecemos e ADMIRAMOS, amamos, transmitida por nós aos que virão... essa é a razão DE SE ESCREVER,de se deixar registrado nosso Passado e momentos de nossas Vidas! "Gaudeamus, igitur, juvenes dum sumus"... dizia a enorme canção em Latim!

'NATO" AZEVEDO (poeta, escritor e compositor)