Em dia com minhas obrigações
Achando que a pilha de livros que se acumulava em cima do meu criado-mudo já alcançava um nível bastante superior ao recomendável para uma família de bem, dispus-me a colocar em dia as minhas leituras e organizá-los devidamente em cima da estante. Limpei um a um os que já estavam lá e separei-os em ordem alfabética de acordo com o sobrenome do escritor. Aproveitando o embalo, fiz o mesmo com as revistas em quadrinhos. Tudo ficou maravilhosamente em ordem, como nunca havia estado até então.
Parti então para as minhas bagunçadas gavetas, com três anos de papéis e todo tipo de trastes acumulados, e iniciei uma varredura. Joguei muita coisa no lixo e outras tantas coloquei dentro de pastas, que foram então dispostas de tal maneira que as minhas gavetas pareceram ter dobrado de tamanho. Estavam, pois, arrumadas.
Lembrei-me então de alguns pequenos problemas domésticos que há muito tempo eu não providenciava o conserto, como a torneira que pingava e o suporte para a televisão que precisava ser melhor firmado. A tudo procurei resolver. Cogitei também uma mudança no lugar dos móveis, e cheguei a arrastá-los para ver como ficavam.
Ao término disso, liguei para um velho amigo, a quem muito devo por ocasião da minha vinda à Brasília, e a quem não via há muito tempo, embora sempre falássemos que devíamos nos encontrar qualquer dia desses. Marcamos para tomar um café, ocasião em que finalmente conheci a namorada que agora já é até noiva.
Estando bem disposto, decidi visitar as atrações turísticas de Brasília que eu próprio, morando aqui, jamais havia tido ocasião de visitar, como o Museu JK, o Memorial dos Povos Indígenas e até mesmo a distante Ermida Dom Bosco.
De volta para casa, aproveitei para relaxar, deitando-me ao som de uma música suave e refletindo sobre toda a minha vida até então. Sentia-me orgulhoso de mim mesmo, porque finalmente estava ficando em dia com minhas obrigações.
Eu confesso: estou sem Internet mesmo.