Gostinho doce
Acabei de acordar de um sonho.
Ou melhor, acho que foi um sonho. Pareceu ser um sonho. Tudo aconteceu em meio tanta fantasia, emoção, confusão.
Lembro-me de alguns fatos, acho que foram os que me marcaram, e vou tentar contar aqui.
No começo, se e que sonho tem começo, lembro-me de andar num calçadão na beira de uma praia, um lugar lindo com uma brisa leve de mar. No momento seguinte era como se o caminho que eu tinha pegado levasse direto a uma lojinha. Cheia de coisas coloridas penduradas no teto e nas paredes. De repente esbarro numa pessoa. Caiu tudo. Fiquei um pouco desconcertada por não saber o que fazer na hora. E ainda mais com a expressão de poucos amigos que o rapaz no qual eu tinha esbarrado fez.
Como em uma simples virada de página, já estava em outro lugar. Agora realmente na beira da praia. Já de noitinha, vendo as pessoas jogando bola, outras correndo e o começo de um luar que prometia ser maravilhoso.
Olhava o horizonte me perdia naquela sensação de calma e liberdade. Apesar do vento friozinho que começava a bater, senti um calorzinho e logo depois um toque, que ao mesmo tempo em que era suave era carinhoso e firme, em minha nuca.
Sabia que tinha alguém naquele instante do meu lado, sentia que o conhecia que era alguém importante e que me fazia bem. Trocamos algumas palavras, carinhos, entretanto ainda não me recordava quem poderia ser essa pessoa. Numa vontade involuntária de ser abraçada e abraçar foi nessa hora que fiquei frente a frente com essa pessoa.
De olhos escuros, sobrancelhas bem definidas, queixo largo, barba serrada e sorriso fácil, ele me olhava com uma intensidade curiosa. Sem falar no ar misterioso. E era nada mais nada menos que a pessoa com que eu tinha me esbarrado mais cedo.
Comecei a rir e a curtir mais ainda aquele momento, mesmo sem entender o que tinha acontecido para estarmos juntos. Senti um gosto diferente na boca, doce, gostoso. Como um mel que me adocicava, não sabia se era sonho ou realidade. Sabia que era bom.
O tempo correu, como a água de um rio. Eu via pessoas andando com pressa, carros, conhecidos e desconhecidos. Como se eu tivesse a capacidade de acelerar o passar das horas. E no final de cada dia desse eu me lembrava daquele instante, daquele lugar, daquele momento, daquela pessoa.
Num certo momento tive a impressão de ter passado realmente alguns meses. E quando chegava o fim do dia ao invés de olhar o mar, olhava o céu. E sentia ainda mais falta daquela pessoa e tinha certeza que ele também sentia minha falta.
O tempo nos sonhos e uma coisa esquisita. Minutos se transformam em horas, dias, meses.
Mais uma vez o tempo tinha corrido me sentia bem, ansiosa, pois estava perto de saciar aquela falta que me consumia. Sentiria de novo aquele gosto adocicado na boca. Veria de novo aqueles olhos misteriosos e curiosos.
Foi nesse instante que, com um susto, senti o calor do sol tocar meu rosto. Abri os olhos. Acordei.
Queria tanto mais cinco minutos de sonho para ver o que acontecia. Era como se eu mesmo estivesse me boicotando. Ainda não sei se era sonho ou realidade.
Fiquei na vontade...