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O FIM PARA NÓS DOIS...

 
Pois é, meu erro foi a paixão! Ali nas imediações da Olegário Maciel, amor à primeira vista! Eu que nunca fui de acreditar nisso, me rendi aos seus encantos. Elegante, bonito e distinto! Não resisti, e resolvi: você seria meu! E foi! Foi meu por muito tempo. Mas que desgraça na minha vida! Ali começou o martírio. Você grudou no meu pé pra não sair! Que sofrimento! As dores que me causou não foram moleza não! Ah, não é qualquer mulher que aguenta o que passei...
 
Desde que entrou em minha vida deixei de ser eu mesma. Perdi meu jeito despojado, descontraído de ser. Era sair com você à rua e todo mundo reparar: o equilíbrio ia pro espaço, a naturalidade caía por terra, a expressão no rosto me traía. Você tinha esse poder sobre mim:  de me sufocar, me deixar cabisbaixa, me roubar a liberdade que sempre prezei.
 
Por que eu não corri com você?  Simplesmente não pude. No fundo tinha esperança de que as coisas mudassem. Acho que a Vilma, aquela amiga da onça, teve muita culpa em tudo. Vivia pondo panos quentes na nossa história: “Com o tempo melhora... Aos poucos ele vai cedendo, se moldando”. Pura mentira! Você não melhorou, não cedeu um só milímetro, nem se moldou, Era o  mesmo durão de sempre. Ah, que vontade de matar a Vilma!
 
Indeléveis, as marcas que deixou em mim, viu? Dói só de pensar! Feridas abertas que chegaram a sangrar. Total boicote a muitas alegrias! Ah, quanta coisa boa deixei de aproveitar por conta da sua ditadura! Posso dizer que os ferimentos cicatrizaram, mas deixaram marcas na alma. E estas nunca vão se curar!
 
Sabe o que eu devia ter feito? Ter-lhe denunciado, registrado  BO, posto a boca no trombone. Devia ter feito uma campanha difamatória contra você, é isso! Mas era lhe olhar e a coragem se diluir:  eu queria muito acreditar que tinha sido feito sob medida pra mim, e lá se iam todas as segundas chances que lhe dava...
 
A gota d’água foi o baile da Irismar: todo mundo dançando e eu morta na cadeira. Não vai, não vai e  não vai! Não vou por quê? Porque não deixo! Não fui. As amigas se acabando no “foi numa festa, gelo e cuba libre” e eu ali olhando! Livre e solta ao som do Whisky a go go, era o que eu queria! Mas, que remédio?! Subjugada, sob seu domínio, paralisada ficava... Que ódio, quando me lembro! Como pude me sujeitar?
 
À saída do baile tomei a decisão: livrar-me de você para sempre! Presença maligna! Inferno da minha vida! Estava farta das suas traições, da sua ingratidão, da sua falta de boa vontade, da sua... Deixa pra lá! E não foi por falta de conversa, não! Quantas vezes lhe pedi que fosse menos fechado, que se abrisse um pouco mais para os problemas entre mim e você. Nem a ameaça de que iria trocá-lo por outro adiantou. Tudo em vão! Você sempre quebrava a ficha...
 
Fim! Na festa da Iris encerrei nosso caso de amor e ódio... Hoje não sei, nem quero saber  por onde anda. Desprezo você totalmente, tá? E juro: nenhum tirano da sua marca pega mais  no meu pé! De ti, guardo apenas um torturante band-aid — o mesmo que usei no calcanhar, no nosso último encontro... Sim, porque naquela  noite do baile eu lhe disse adeus! Atirei você na lixeira da rua, e segui livre, leve, solta e... Descalça... Ah, meu lindo sapato azul de lacinh
o, por que a gente não deu certo, hein?