SEGREDOS MAÇÔNICOS

O ideário popular, já há um bom tempo, acostumou-se a cercar a Maçonaria de segredos e mistérios. Ora! Pensando bem, não é nem tanto ao mar e nem tanto ao vento. Se observarmos, com cuidado, veremos que quase todos os grupos organizados estabelecem certos ritos entre os seus participantes, com o objetivo de alimentar uma espécie de identidade comum e, com isso, fortalecer o sentimento de corpo.

Quem de nós, simples mortais, entende o linguajar de meia dúzia de médicos, quando estão conversando sobre os assuntos a eles pertinentes? E o vocabulário dos advogados, quem entende ao ouvi-los evocando a fundamentação das suas teses?

A mesma questão se estende pelos dialetos próprios dos economistas, aviadores, militares, policiais, engenheiros, mecânicos, educadores, psicólogos, cientistas, e demais integrantes de grupos de gente especializada em alguma coisa. Quem entende o que eles falam entre si? Por acaso esse comportamento tem algo de misterioso?

Qualquer dialeto ou comportamento coletivo, de associações com objetivos definidos, é facilmente decodificado por todo aquele que de uma forma ou outra tornou-se um “iniciado”. Quer dizer aquele que, por via regular ou através de pesquisa ou estudo, logrou navegar pelo conhecimento de como funciona essa ou aquela associação de pessoas.

A maior ou menor proteção a esses padrões, quando em choque com o desconhecimento, o preconceito ou a maledicência, resultam por envolver todo o desempenho da organização como secreta ou misteriosa criando, assim, estigmas.

Dessa maneira, a Maçonaria não poderia fugir à regra, sobretudo, por se tratar de uma organização fundamentada nos princípios da Tradição.

Também é notório que o ingresso em qualquer organização implica na observância de pré-requisitos e o mesmo ocorre com os maçons. O ingresso é livre, desde que o candidato seja capaz de satisfazê-los. Se atendidos, pronto, a iniciação será efetivada e o neófito passará a aprender o dialeto e os assuntos que são vedados aos não iniciados.

De qualquer maneira, lá dentro dos escaninhos da Ordem, como em todos os demais setores da atividade humana organizada, há restrições como as que existem em outros ramos da atividade humana.

Quem sabe, por exemplo, qual a inovação que será adicionada ao modelo do próximo ano, do automóvel popular da marca “X”? Que recurso tecnológico integrará o novo celular produzido na fábrica coreana “Y”? Qual o próximo programa de auditório que o canal “Z” irá apresentar no ano que vem?

Essas incógnitas fazem parte do processo produtivo como uma forma de proteção contra a concorrência e a espionagem; é uma das armas de que se valem “os curiosos” da agressividade do mercado.

Mas, tem alguns segredinhos que podem ser contados, embora alguns irmãos não tenham se sentido muito à vontade em razão de um fato verídico ocorrido há poucos dias. Não fui testemunha ocular mas, um dos participantes a quem muito estimo contou-me o que se passou.

A Fraternidade, juntamente com a Igualdade e a Liberdade são os três pilares sobre os quais se assentam as estruturas da Maçonaria. A Fraternidade se expressa entre os irmãos através de um entendimento afável, constante, intenso, onde a proximidade é cultivada. No seu exercício se constroem e se solidificam as similaridades fazendo com que surja um desejo de estarem em contato “tête-à-tête” para a troca de impressões, idéias, sentimentos, enfim da participação mútua.

Um dos momentos mais expressivos desse comportamento se faz ao redor de uma mesa onde tratam de desenvolver os temas comuns entre as delícias de iguarias e libações alegres e descontraídas.

É regra comum, como sedimentadora dessa relação fraternal, reunirem-se os maçons, após as suas Sessões Ritualísticas, em uma dependência da Loja em que há todos os recursos para a preparação e efetivação de banquetes ou coquetéis. Esse costume resulta de um importante fato que deu origem à Ordem. As reuniões iniciais da Maçonaria eram realizadas em Tavernas e, em ambiente estimulante para, além da troca de ideias, o deguste de pratos saborosos e os vinhos acompanhantes...

Pois bem! Meu amigo participou de uma reunião solene para a qual foram convidados todos os irmãos do seu grau, residentes na cidade, independentemente do Rito a que pertenciam.

Tratava-se de um momento importante em que seria realizada uma palestra filosófica, proferida por um importante e conceituado orador.

Tudo transcorria como o previsto e a atenção dos circunstantes, presa ao discurso do visitante.

O interesse despertado na assistência era tal que, usando palavreado do linguajar maçônico, “fazia-se silencio em ambas as Colunas”... O Orador imperava do alto do seu conhecimento...

No entanto, havia algo que estava começando a deixar inquietos os circunstantes e nada havia que pudesse impedir certas reações do organismo que não obedeceria a estimulação volitiva.

A reunião estava sendo realizada no templo situado no andar superior, ficando na parte do pavimento térreo, localizadas as dependências de uso administrativo bem com o salão de festas, restaurante e a cozinha.

Quando a Sessão já se encontrava próxima do seu final, um delicioso cheiro de comida começou a invadir o ambiente e, como não poderia deixar de ser, também as narinas dos irmãos participantes, estimulando o comportamento fraternal que viria a seguir, nas lautas mesas. Era cheiro de pernil ou costeleta de porco assada...

Sem deixarem perceber estava surgindo uma pequena inquietação com as reações do estômago e do psiquismo, imaginando os variados quitutes à disposição, ali pertinho e dentro de alguns pouquíssimos minutos. A salivação estava a pleno e os sentidos à flor da pele.

Terminada a exposição e os devidos apartes, a Sessão foi encerrada e, como de costume, todos os irmãos aguardavam o convite do Venerável-Mestre para que se dirigissem ao salão, com os votos habituais de “Bom Apetite”. Porém, a decepção não pode ser contida, pois os presentes foram todos traídos pelos inconscientes esgares faciais manifestados.

O Venerável, seguro da sua sobriedade, em vez do convite, avisou:

“Irmãos”! Hoje, ao ouvirmos a palestra que nos foi presenteada pelo irmão visitante, nos sentimos plenamente satisfeitos e com a alma alimentada. Agradecemos a ele e deixamos formulado o convite para que esteja entre nós, em outra oportunidade, quando lhe ofereceremos um merecido banquete.

Hoje, estamos impedidos de realizar a nossa confraternização habitual em razão de que, nossas instalações foram alugadas para a realização de um jantar comemorativo de um estabelecimento de ensino do nosso bairro, onde os professores e diretoria estarão confraternizando. Assim, “Está encerrada a Sessão!”

Meu amigo, então, ao sair concitou aos demais: Sugiro que mantenhamos segredo e não deixemos extravasar das nossas paredes o nosso desapontamento! Vamos manter segredo, OK?

E foram todos para casa. Meu amigo, ao chegar foi logo dizendo à esposa: Querida! O jantar estava maravilhoso! Comi tanto que não aguento nem mais uma migalha! Só faltava você para aproveitar! Parece que teremos uma reunião aberta, na próxima semana e levarei você! OK?

E foram sentar no sofá para ver o último noticiário da televisão. Estavam difundindo uma reportagem sobre as comidas que os árabes comem ao término do jejum do “Ramadan”.

Amelius – 01/12/2013 – 13:00

Sobradinho - DF

Amelius
Enviado por Amelius em 01/12/2013
Reeditado em 17/07/2020
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