Coluna Invisíveis
INVISÍVEIS
“Canta tua aldeia e cantarás o mundo” – León de Tolstói
Quando a luz volta a brilhar em olhos que andavam opacos, o mundo se ilumina.
Roseli, 35 anos sem estudar; Valdeci, 56 anos sem contato com os livros; Loeci e Rosane, 35 anos afastadas da vida escolar; Inete, 37 anos; Delci, 40 anos; Leonel, 18 anos; Jéfeter, um ano e meio. Em comum, a certeza que enquanto há vida, há tempo para aprender, para ensinar, para conhecer.
Leonel já levantou muita parede, construiu casa pra muita gente; Jéfeter achou que já era hora de tomar as rédeas da própria vida; Valdeci, entre o corte e a costura dos tecidos, buscou os livros; Roseli sentiu que precisava de algo mais; Delci quis recuperar o tempo perdido; Rosane queria melhorar a auto-estima; Inete procurava realizar um sonho; Loeci precisava fazer algo novo, diferente.
Essas pessoas corajosas foram estudantes dos primeiros cursos do Proeja – FIC oferecidos pelo município de Santa Rosa, em parceria com o Instituto Federal Farroupilha, entre 2010 e 2012, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Expedicionário Weber, na Vila Santos.
O Proeja-FIC é um programa do Ministério da Educação que oferta Educação de Jovens e Adultos, para que possam concluir o Ensino Fundamental, combinada com 200 h de iniciação profissional.
Roseli, Valdeci e Jéfeter foram colegas no curso de Operador de Computador; Leonel optou pelo curso de Carpinteiro; Delci, Rosane, Inete e Loeci, pelo curso de Alimentação Escolar. A qualificação profissional foi diversa, mas havia algo em comum: o propósito de concluir o que haviam começado.
E durante dois anos, superando o cansaço e as dificuldades, desafiaram quem dizia que não conseguiriam. E venceram! Estão cursando o Ensino Médio e não pretendem parar. Um quer fazer técnico em Edificações; outro, em Segurança do Trabalho; uma ainda não tem planos e cinco querem fazer curso superior, entre as carreiras almejadas estão Psicologia e Biologia.
Contam, entre risos, que voltaram a ser adolescentes, voltaram a viver e que se tivessem continuado só em casa, teriam ficado doentes. Lembram algumas frases ditas: “O que é que a mãe quer? Ao invés de ficar em casa descansando vai estudar”; “Não, não... só tu mesmo, mulher, pra sair nessa chuva pra estudar”; “Eu que queria ficar em casa, não posso; a mãe, que pode, não fica”. Mas, lembram, também, de terem ouvido muitas vezes “Não desistam!”; “Se ficarmos juntos, vamos conseguir”; “Agarrem seus sonhos!”.
Fizeram isso. Continuam agarrando os sonhos, com gana e coragem. São heroínas e heróis que cruzam conosco na rua, anonimamente, mas que fazem a diferença.
Para vocês, uma escritura de Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta brasileiro, “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.", porque depois que o facho de luz acende nos olhos, não há quem apague. Continuem com os olhos faiscando!