UM AMIGO INESPERADO

Acordo meio atônito olho no relógio e levo um susto, são seis horas e tenho um voo que saí às sete. O aeroporto fica bem distante do apartamento onde moro e ainda preciso conseguir um táxi para chegar a tempo de embarcar para Miami. Naquele horário era meio complicado conseguir um rapidamente. Tomei um banho super-rápido, engoli um café amanhecido e sai apressado até o elevador rezando para que não estivesse com alguma pane, coisa que era comum acontecer.

Felizmente o elevador surgiu; desci ao térreo e como havia pedido ao porteiro para fazer o favor de conseguir a condução, o taxista já estava me esperando. Agradeci o rapaz da portaria e subi no táxi pedindo ao motorista que “pisasse fundo” porquanto eu estava atrasado. Por sorte não havia ainda muito trânsito naquele horário e deu tempo para eu chegar antes do avião partir. Ufa, foi por pouco!

O avião decolou, acomodei-me na poltrona para colocar em dia os meus pensamentos sobre os compromissos que eu teria lá, haja vista que minha missão não seria nada fácil. Como advogado da senhora Filomena de Castro, eu fora designado para representá-la como herdeira do espólio que um tio solteirão lhe havia deixado, o qual residia há muitos anos nos Estados Unidos e possuía um comércio de peças antigas na cidade de Miami, conseguindo uma pequena fortuna da qual minha cliente era a única herdeira.

Dona Filomena era viúva e não tinha filhos, então a intenção dela era receber essa herança e após a morte doar para uma entidade filantrópica na cidade de São Paulo onde morava aproximadamente há uns vinte anos. Essa simpática senhora quando se casou veio morar na capital paulista com seu finado marido e junto dele viveu feliz por muitos anos.

Chegando ao meu destino tomei um táxi e segui para um hotel, após o almoço fui ao encontro do advogado encarregado pelo falecido de me passar as coordenadas do testamento deixado à minha cliente. No horário combinado nos encontramos no escritório do Dr. Samuel Klein e ele me entregou toda a documentação necessária à posse dos bens pertencentes agora a Dona Filomena. Eram documentos importantes e estava tudo legalizado.

Comuniquei via telefone que no dia seguinte partiria de volta ao Brasil para que ela tomasse posse dos bens herdados. Logo de manhã tomei um café reforçado, paguei a hospedagem, segui a pé até o metrô que era perto do hotel, depois segui de táxi rumo ao aeroporto para a viagem de volta. Estava com minha mala de viagem e a maleta com todos os documentos, inclusive a Carta de Adjudicação.

Desci apressado, pois o avião já estava prestes a partir, entrei e me acomodei na poltrona. De repente, um susto: a maleta não estava comigo. Pensei que provavelmente a teria esquecido no táxi. E agora, o que fazer? Fiquei desesperado, pois perder aqueles documentos era trágico para a minha reputação de advogado. E como iria descobrir o taxista que me trouxe até o aeroporto? Teria que adiar a viagem e tentar achar os documentos.

Fiquei muito chateado e quando já me preparava para descer do avião, chega um senhor bem idoso e vem na minha direção segurando uma maleta igual a minha. Ele me olhou simpaticamente e sorrindo me entregou dizendo:

- Aqui está meu amigo sua maleta que você esqueceu na correria! Fique tranquilo e siga sua viagem de volta. Sem dizer mais nada deu meia volta e desapareceu do avião

.Fui atrás para agradecer e nada; havia desaparecido. Perguntei à aeromoça se não tinha visto um senhor idoso entrar com uma maleta na mão e sair logo em seguida apressadamente do avião. Ela me disse que não havia visto ninguém com essa descrição, ainda mais que as portas já estavam fechadas para a partida, então seria impossível alguém entrar sem se comunicar e ela teria que acompanhar ainda mais se não fosse passageiro credenciado para o voo.

Segui a viagem toda encafifado com aquele personagem que me entregou a maleta com os documentos da herança da dona Filomena, quem seria?

Logo que cheguei, entreguei para minha cliente o inventário e relatei sobre o acontecido. Ela me perguntou como era essa pessoa e eu a descrevi, embora tivesse sido muito rápido o nosso contato, guardei muito bem a fisionomia dele.

Ela tirou da bolsa uma foto e me mostrou dizendo:

- Era essa a pessoa que o senhor viu?

- Essa mesma! Disse-lhe, admirado!

-Pois então era o meu falecido tio que viu o seu desespero e quis ajudá-lo. Ele sempre foi uma pessoa solícita e mesmo em outra vida continua a fazer o bem.

-Nossa! Por minha sorte, dona Filomena, apareceu em meu socorro “um amigo inesperado”, do qual vou guardar sua imagem solidária para sempre enquanto viver!

As pessoas boas, sempre estarão nos ajudando Dr. André, disse Dona Filomena, pois seus espíritos de luz estão continuamente em missão de fazer o bem aqui na terra.

Eu era uma pessoa meio incrédula, mas depois desse acontecimento acabei acreditando que Deus coloca no nosso caminho esses seres do bem para nos ajudar quando nos sentimos desesperados, sem rumo, em muitas situações.