Black Friday, a nova Peste Negra

Em 2006, assisti no Youtube a um vídeo que me deixou pasmado: filas quilométricas em frente as lojas de um Shopping na Califórnia, com direito a barracas lotadas, fogões improvisados, churrasqueiras e banquinhos. Nas paredes externas, com tijolos à vista, cartazes brancos escritos a pincel atômico de cor vermelha, com os dizeres "black friday". Uma multidão em frente os portões segundos antes do horário de abertura. Quando os vendedores abriram os portões, um pandemônio: empurra-empurra, com direito a pessoas caindo e cotoveladas.

Ver, nos últimos dias, anúncios de dezenas de lojas, na TV e na Internet sobre a "black friday" no Brasil me fez lembrar que nos dias de hoje doenças e pragas, como a gripe H1N1, antes concentradas em localidades distantes são levadas com absurda rapidez para outras regiões. Assim aconteceu também com a tal "Black Friday".

O engraçado é que o comportamento coletivo degradante provocado por tal evento já acontecia durante promoções aqui no Brasil em lojas populares que abrem de madrugada para liquidações e também nas datas de início da venda de ingressos para shows de mega-stars, como o do desprezível Justin Bieber. Tudo "muito igual", com a licença do pleonasmo, com exceção do nome. Não se trata mais de "corujão", "liquidação portas-fechadas". Agora é Black Friday. Olha como fica bonito em inglês!

Eu poderia dizer que os indivíduos que se matam para comprar produtos mais baratos chegaram ao fundo do poço. Mas isso foi há algum tempo atrás. Eles estão no fundo do poço e agora cavam-no, quebram as unhas, sangram os punhos, desesperados, para que o poço seja ainda mais fundo.

(Gabriel)