Ser perfeccionista e deputado

Três cidadão curitibanos cometeram há alguns dias uma excentricidade, que foi a de acompanhar pela primeira vez uma sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Paraná. Chamou-lhes a atenção principalmente a dispersão dos demais deputados quando um deles chega à tribuna para discursar. O sujeito fala, fala, e nenhum dos seus colegas presta atenção – nem mesmo o presidente da Casa. Por vezes a conversa – e as gargalhadas – chegam ao mesmo volume do microfone usado pelo deputado. Os três também se espantaram com a rapidez que os projetos são aprovados – foram 44 em meia hora. E enquanto ainda se vota os requerimentos, a Assembleia começa a esvaziar.

Não tenho experiência em sessões como essa, mas já acompanhei audiências públicas na Câmara dos Deputados e meu espanto não foi menor. Constatei que é impossível ser perfeccionista e deputado ao mesmo tempo. Nenhum deles consegue ficar sentadinho assistindo a audiência do começo ao fim. O próprio presidente da sessão muda meia dúzia de vezes. Vários chegam na metade, ouvem um pouco, fazem uma pergunta qualquer (normalmente uma tolice) e vão embora (às vezes antes de ouvir a resposta). E nenhum deputado se sente constrangido em atender ao celular e conversar animadamente no meio da audiência.

Supostamente, essas audiências, feitas com especialistas, servem para clarear ideias e melhorar os projetos de lei da Câmara. No entanto, ninguém se preocupa em anotar coisa alguma. Os especialistas tentam resumir quem são e o que fazem, o que leva metade do tempo que possuem. A outra parte é gasta resumindo o que já se sabe. Para não dizer que não fez nada, o presidente arrola sete ou oito perguntas na sequência, coisa que leva uns cinco minutos para fazer, e os especialistas, sem tempo, respondem a tudo com duas ou três frases. Nas considerações finais, todos se dizem bastante satisfeitos com os resultados da audiência. E eu saio de lá enlevado por ver a democracia acontecendo diante dos meus olhos.