Casas de Cultura
A gente aprende que não é uma boa ser saudosista. O saudosismo incomoda. Tanto que ninguém desconhece a expressão, já meio desgastada, “quem gosta de passado é museu”.
Houve um tempo em que as igrejas tinham todas uma arquitetura muito aproximada. Como é ainda hoje. O que fazia com que as identificássemos rapidamente. Eram em sua maioria católicas.
Havia também, como ainda há, as chamadas igrejas batistas. Evangélicas e em menor número que as católicas. E que permanecem como eram. Com o detalhe de que funcionavam em prédios que viviam em geral com suas portas fechadas. Como se não fosse permitido o acesso a qualquer um.
Enquanto as igrejas católicas estavam sempre abertas. O que não as tornavam nem piores nem melhores que as outras, se quisermos usar o aforismo do Salgueiro (“nem melhor nem pior, apenas diferente”). Assim como o católico e o protestante, que podem ser da pior ou melhor índole, ainda que, no frigir dos ovos, o Deus seja o mesmo.
E aí surgiram os evangélicos de hoje. Um núcleo neopentecostal em que podem ainda ser identificados resquícios do movimento iniciado na Europa no século XVI pelo teólogo cristão Martinho Lutero, que se opunha às práticas e doutrinas da Igreja Católica. Alguns andaram chutando imagens por aí.
Sendo que a proliferação de seus templos se deu de tal forma que não existe, e nem precisa, qualquer tipo de arquitetura específica. Qualquer loja vazia, pequena ou não, de frente para a rua, oficina de peças de automóveis desativada, padaria, pet shops, lojas de balas, galpões, etc., tudo pode se tornar uma igreja evangélica. Se não houver um letreiro, como o de um supermercado, não poderemos identificá-las facilmente.
Talvez possamos dizer que, no início, os imóveis preferidos eram os cinemas. Com a construção de shoppings pela cidade, a maioria deles dotados de salas de projeção, e o aumento progressivo e incontrolável da violência por todos os bairros do Rio e pelo país, os cinemas de nossas ruas foram sendo progressivamente desativados. Tornaram-se antieconômicos.
Disso se aproveitaram os evangélicos de hoje para transformar verdadeiras casas de cultura em casas de cultura de religiosidade duvidosa. Onde é essencial o pagamento do dízimo, estimulado em cultos diários, assim como a prática do exorcismo. O que projetou no mercado a profissão de pastor, bispo, bispa ou seja lá o que for. Pela possibilidade dos apreciáveis rendimentos auferidos.
Nada de errado ou certo nisso. Trata-se apenas do sinal dos tempos. Ou dos templos. Que podem conduzir certas pessoas a se preocuparem com bobagens como o saudosismo.
Rio, 27/11/2013
Aluizio Rezende