Memória em quadrinhos
Quando eu era menina, já adolescendo, adorava ir na casa dos meus avós. Era distante da minha casa e levávamos uns quarenta minutos para chegar lá... a pé.
A casa da nona ficava no meio de uma imensa pastagem e era lá que brincávamos com os primos ou tios.
Eu tenho um tio que é mais ou menos da minha idade, o Vilson, que fazia coleção de revistinhas do Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e Zé Carioca. Ele comprava todas, inclusive os Almanaques, que eram as mesmas revistinhas, só que mais rechonchudas, recheadas de histórias.
Todo esse tesouro era guardado como devia: dentro de uma grande mala velha, com cadeado, debaixo da cama, no quarto dele, onde eu não entrava por respeito à privacidade.
Não lembro exatamente em que momento ele deu permissão a mim e à minha irmã, de lermos as revistinhas. Lembro somente da emoção e do frisson que eu sentia quando ele arrastava aquela mala até a varanda e a abria, deixando livre seus tesouros. Eu não via mais nada, sentada no chão, embevecida com a leitura. Mergulhava num transe que não via o passar das horas. E depois, prêmio dos prêmios, ele permitia que levássemos alguns exemplares para que continuássemos a leitura em casa. Eu adorava esse ritual de contar as revistinhas para saber quantas estávamos levando, pois antevia o prazer de tê-las para ler e reler com calma no silêncio do meu quarto.
Até hoje, sinto o cheirinho daquelas pequenas revistas que me fascinavam e me divertiam tanto. A cor, a textura, o formato, tudo era absorvido e me marcava indelevelmente. Começava aí a minha paixão por histórias em quadrinhos pois pelos livros eu já era apaixonada desde que comecei a ler.
Acho que devo ao meu tio Vilson o meu fascínio por bancas de revistas.