MUSA DOS SENTIMENTOS HUMANOS

Dorme o sonho dos justos o desejo de compaixão. Não aguentou as amarguras da vida e resolveu partir depois de um colapso de pânico, quando, à noite, assistia ao noticiário de mais uma chacina, mas um descaso, mais um ato de desrespeito com a vida alheia. A musa dos sentimentos humanos era muito sensível, sempre esteve presente nos maiores acontecimentos mundiais: no processo de morte do Cristo, no doloroso processo de divisão da igreja e em todo o Renascimento, na Revolução Francesa, na Libertação dos Escravos no Brasil, no Holocausto, no Golpe Militar brasileiro de 1964, na desenfreada guerra social da contemporaneidade, nos quatro cantos do mundo...

Resolveu partir para o andar de cima, a Musa bela da sensibilidade porque se negou a ficar cega, qual justiça brasileira, ou se tornar conivente com os mandos e desmandos de uma sociedade centrada no lucro capital que exclui, marginaliza, "vulnerabiliza", destroça, segrega o ser que não é respeitado em seus direitos fundamentais, tais como: à vida, a um pedaço de pão, a um prato farto de feijão, a uma toalha, sabonete, escova de dente, creme dental, colchão macio, coberta quente, chinelos, roupão; à liberdade de também comprar, consumir, viajar, poder ir e vir em segurança, a entrar na dança social e dançar, suar o corpo com o fruto do seu trabalho, ter trabalho e também construir sua casa/morada, fazer churrasco e tomar sua cerveja; à dignidade de ser gente, ter peso, participar da distribuição de renda, ter renda suficiente para custear as suas necessidades, ser necessário ao mundo, gozar de um mundo seguro, solidário, de políticas públicas que assegurem uma saúde, uma educação, um esporte, um lazer, uma habitação, uma segurança, tudo isso com qualidade...

Abotoou o paletó de madeira e nem deu adeus, se foi, a menina dos olhos de cristais, que fazia o ser humano, dentro de sua complexidade, ainda ter olhar de caridade, de indignação, de perplexidade e promover atos solidários, campanhas cidadãs, ONGs com a finalidade de erradicar a pobreza e a falta de oportunidades aos carentes, que exercia dentro das confrarias um estado de espírito humanizador à promoção de chás beneficentes para o exercício da cidadania. Se foi e nem se pode colocar flores para que pudessem perfumar a partida tão inesperada daquela que fazia o coração pulsar...

Desde então, agora, é só desgraça: a cada dia são corpos espalhados pelo chão, mortos à bala, a queima roupa, à sangue frio e uma onde de violência desenfreada toda conta da sociedade cheia de anseios de justiça a qualquer preço, a qualquer preço os muros altos, os sistemas de alarme, os seguranças particulares, os vigias diurnos e noturnos e mais e mais os números de violência aumentando...Porque o plantão nacional agora informa, informa o jornal local, o site apelativo, a rádio corredor, a boca do vizinho, tudo estampado nos olhares sociais de pânico, medo e dor...

Foi-se para o além, a Divina chama, quando assistia ao noticiário, assim de repente, sem se despedir, embora tenha tentado alertar, por muito tempo, através de tantos canais de comunicação, a humanidade, para que tivesse atenção a esses atos de desumanização, de interesses próprios, individualismo, desertificação das emoções, consumismo, porque tudo isso estava apagando a sua chama no coração do homem e dessa feita, se foi, para o espaço, morta pela falta de compaixão.