Surpresa!
Que coisa divertida é preparar uma festa-surpresa. E que cautela ela exige! Porque o menor deslize, uma frase a mais, um movimento suspeito, uma ligação na hora errada, pode por tudo a perder - e a festa então deixará de ser surpresa. É preciso muita discrição, e mais ainda para quem não costuma mentir: tudo deve ser feito de maneira a não ser sequer questionado, sob pena de ter que revelar alguma parte da verdade.
Para facilitar essa tarefa, as Comissões Organizadoras de Festas-Surpresas contam sempre com um distraidor. É a pessoa que tem a missão de manter o aniversariante bem longe de casa, criando para isso os mais improváveis programas, e dando a eles tamanha importância que o aniversariante acaba concordando em ir, ainda que normalmente não esteja com a menor vontade. Há casos em que a distração é feita apenas na base da conversa, o que exige grande talento de oratória para tentar empolgar o aniversariante em algum assunto, enquanto a hora da surpresa não chega.
Os outros, os que sabem de tudo, estão tensos e nervosos. Já estão com o presente, mas ainda não terminaram de assinar um cartão. É preciso esperar uma pessoa que ainda não chegou. Excitados pela traquinagem, todos riem à toa. Súbito, vem o aviso: o aniversariante está chegando. Aos encontrões, procura-se então o melhor lugar para se posicionar e aguardar, em angustiante silêncio, o momento da porta se abrir.
Se tudo foi bem feito, ela se abre com o susto do aniversariante diante de um “Parabéns a você”. Leva alguns segundos até entender do que se trata. E todos se divertem com a sua cara de perplexidade. Depois dos abraços e cumprimentos, haverá um momento para a revelação dos segredos. É quando o aniversariante fatalmente dirá coisas como “eu bem que achei estranho”, e os outros falarão de tudo o que precisaram armar para que saísse como planejado.
O grande problema é que no outro ano o aniversariante estará atento. Será uma surpresa para ele se não tiver uma festa como essa.