PAIS SACANAS
Tenho para mim que o “bom velhinho” é um dos personagens mais sacaneados da história. O que sempre fizeram – e ainda fazem – com ele é coisa que não se faz com ninguém. Nem com Judas. Nem com os quadrilheiros que tomaram de assalto o Estado brasileiro.
Os tempos, eu sei, mudaram. As crianças de hoje não são tão tolas quanto a gurizada de ontem. Mas continuam sendo vítimas de propaganda enganosa.
Durante alguns poucos anos, ouvia que se fizesse (ou não fizesse, dependendo do caso) isso ou aquilo, Papai Noel não “viria”. Ou seja: o velhote barbudo e suas renas iriam me largar na mão, sem presente algum, em pleno Natal. O jeito era tomar a benção da madrinha e do padrinho, evitar palavrões, suportar sem um pio a injeção no traseiro.
Não foram poucas as vezes que pai e mãe me incentivaram a escrever cartas para o amigão das crianças. Fazia meus pedidos e recebia algo completamente diferente do que desejava. Eu lhe pedia um triciclo e recebia uma peteca. Eu lhe rogava um autorama e lá vinha uma bola de plástico.
Pai e mãe vinham com a lenga-lenga de sempre. “Papai Noel está pobre, neste ano”. Até aí, tudo bem. Estava acostumado com a vida dura. O que não conseguia entender era por que o vizinho sempre recebia presentes melhores que os meus. Que diabos! Este velho só pode estar de sacanagem comigo. Todo ano a mesma ladainha? Que seletividade é esta?
Fui tomando uma ojeriza pelo velho que só eu sei. Só não rompi as relações porque, afinal, uma peteca é melhor que nada. Certo dia, pai e mãe vieram com a “bomba”: “Papai Noel não existe”. Recebi a “bomba” com alívio. Minha ira mudou de foco.
Até hoje não consigo compreender as razões que levam os pais a fazer o filho acreditar numa “mentira” e a sentir bronca da “mentira”, para depois lhe dizer que a “mentira” nunca existiu. Vão puxar trenós.
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