Iracema, Matriz Brasil
Nossa pretensão é abordar o mito Iracema, criado por José de Alencar que, em nosso entendimento, simboliza o índio como a raiz do povo brasileiro. Povo, síntese étnica em intenso processo de caldeamento racial. Ou seja, abordar Iracema como mito de fundação da identidade brasileira.
O eixo central do romance de José de Alencar, Iracema, é a relação da índia com o colonizador português Martim.
Esse relacionamento amoroso, repleto de obstáculos, desencontros e dor, pode ser interpretado como metáfora, como alegoria, para a formação da nação brasileira que, por sua vez, tem como símbolo o filho de Iracema e Martim, Moacir, “aquele que nasce da dor”.
Esse mito sintetiza e, portanto reduz em si a complexidade e diversidade da nação brasileira ainda em formação. Evidentemente, que na época da provável elaboração do livro 1864, outros brancos colonizadores marcaram presença no Brasil, principalmente franceses, no sudeste e nordeste, espanhóis no sul e holandeses no nordeste. Além disso, ainda no período colonial, vieram os negros escravos e mais tarde, imigrantes italianos, alemães e do Oriente Médio e Ásia também vieram fazer parte dessa festa da miscigenação.
O que certamente autor jamais poderia imaginar é que na segunda metade do século XX, teríamos no Governo da República um ministro de origem japonesa, Shigeaki Ueki Bastos.
Enfim, Iracema simboliza: o ventre primeiro; o índio, como o par a sair para dançar e iniciar esse baile da miscigenação; o índio como a matriz da nação brasileira; e todos os ventres que, por causalidade, deitaram e continuam deitando nesse berço esplêndido para gerar a síntese dessa diversidade, num processo intenso de miscigenação.
Existem escolas iniciáticas ministradoras de que tudo ocorre, acontece numa sequência de causalidades, voltadas para a realização da Obra do Eterno na face da Terra, Obra que, simplificando, seria a evolução planetária: o planeta como um organismo vivo e os quatro reinos, que nele vivem.
Assim, desde o descobrimento por Cabral, os tratados feitos entre os reis de Portugal e Espanha, o processo de colonização, bem como as invasões de franceses e holandeses, toda essa sequência de eventos, assim como outros eventos que virão pertencer ao Roteiro da Grande Peça, o surgimento dum povo síntese, no Brasil, cujos corpos físicos e seus psíquicos servirão de veículos para o desenvolvimento dum novo estado de consciência, bem como sua disseminação pelo planeta.
Então, Iracema tinha que ser como José de Alencar pintou com suas cores líricas e românticas: “Virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”.
“Iracema” é verso em rimas que, ao mesmo tempo em que faz referência a nossos ancestrais, celebra seus ventres nativos e gentis, ou seja, as matrizes dessa diversidade, Brasil.
Iracema
De longos e lisos cabelos,
de olhos de mesmo tom negro,
como madrugada na floresta,
são arranjos da natureza em festa.
Tens o perfume do cravo,
Iracema dos lábios de mel.
Pintor nenhum faz teu retrato,
pois és tela do divino pincel.
Em paz coma dança da vida,
traz na alma e no coração,
a coragem de adeus na partida,
a fé e a força da oração.
Astros e estrelas em conspiração
Indicam a missão a teu ventre servil,
palco da festa da miscigenação
e de teu colo, os seios da gente Brasil.
A canção encontra-se nesse mesmo “site” no endereço:
http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/58871