Sujos ou Mal Lavados?
Por Carlos Sena (Da série “Texticulos”)

 
Os sujos ou o mal lavado? Barrabás, Herodes, o Bom ou o Mau Ladrão? Há um corte, uma corte, uma tez... Em qual pele se mete o mal lavado do plano alto ou do plano baixo? Porque “tu me negarás três vezes antes do galo cantar”, mas o galo já cantou faz tempo debaixo da abobada azul que nos cobre em forma de manto. Afinal, o sujo ou o mal lavado? Cadê o lavabo da falsa moral que se esconde nos escombros da memória lavada, mas nem sempre ensaboada da probidade? 
Lá fora há jubilo ingênuo de tantos como se a pátria amada estivesse sendo passada limpo. E como se a sua sujeira tivesse como ser limpa por uma corte meio caixa preta. E os rabos presos de tantos onde é que se esconde que não se veem em conveniência? A burguesia teria deixado de feder ou o dinheiro teria apenas deixado de mandar? 
No desiderato da nação pode haver sublimação, enquanto lá fora dos poderes podres os desmamados não se contentam apenas como expectadores, ou como observadores binoculares de um país que avançou contra suas vontades. Nesse mesmo desiderato “Madalenas” não se arrependem dos males feitos à nação por ter nela constituído tanta riqueza concentrada e tanta escola e faculdade focadas para os mais aquinhoados. Ah, “Madalenas”, teus iglus foram rompidos a despeito do ufanismo que hoje se finca na praça...
E, como disse o poeta apoteoticamente: “A mão que afaga é a mesma que apedreja, a boca que escarra é a mesma que beija”... Ah, Judas Iscariotes, por que não viras sapos ou caçote? Por que o “dente por dente e o olho por olho” se no teu olho em vez de argueiro há lajeiro? 
Amanhã será novo dia. O preço dos que se rejubilam com o tormento alheio pode ser alto demais, enquanto lá fora poucos poderão saber a diferença entre os sujos e os mal lavados, ou não?