De terno, derrubando mangas

Continuo com os meus passeios de fim de tarde. Depois de vários dias implicando com a arquitetura das casas e a solidão das quadras na Asa Sul, acabei descobrindo alguns sinais de vida durante a minha caminhada. Ontem mesmo, quem diria, topei com o meu vizinho de quarto. Conheço bem pouca gente na cidade, mas ontem tive a feliz oportunidade de fazer um cumprimento. Não faz muito tempo, uma garotinha brincando em um parque praticamente exigiu o meu cumprimento, berrando vários ois na minha direção até que eu me virasse e respondesse: oi.

Outro dia encontrei um tipo curioso. De terno, gravata e com o telefone celular à orelha, lembrava bastante aqueles sujeitos se digladiando nos pregões da Bolsa de Valores. No entanto, aquele aparente homem de negócios foi flagrado por mim em momento bem mais prosaico, ou seja, arremessando coisas na direção de uma mangueira. Tentava com isso derrubar algumas frutas, e pelo visto já havia conseguido duas ou três, pois as enxerguei separadas em um cantinho. Se não desse muito na vista, eu ficaria parado observando sua ação e tentando descobrir quem era aquele sujeito.

Isso foi um pouco antes da 708 Sul. Por lá há uma espécie de coreto, abandonado e repleto de pichações. Descubro na entrada que aquilo se chama “Feira do Sabor”, embora atualmente pudesse ser chamado de feira do cheiro. Sem dúvida faz tempo que não acontece feira nenhuma por lá. Dentro, em meio a frases de louvor à maconha, encontrei pichações curiosas: “Paula, a pessoa certa na hora errada”; “Paula, case-se comigo numa noite de luar com buquê, vestido e véu”. Os românticos, vejam só, também picham.

Também tenho encontrado nessas caminhadas outra forma de vida, uma que costuma aparecer com certo estardalhaço. São os cachorros, que estranham a presença humana tão próxima a suas casas e aproveitam para pregar um susto no invasor, latindo diretamente no seu ouvido. Mas eu não deixo por menos: lato de volta, e é vida que segue.