A CAIXA PRETA E OS LAMBE-LAMBES
Apesar da minha idade, poucas vezes vi lambe-lambes em praças públicas na minha infância. Mas me lembro deles com suas máquinas de cortininha, apoiadas em tripés, fotografando os passantes. Às vezes captavam instantâneos, às vezes levavam algum tempo a organizar a pose de uma família em trajes domingueiros. Logo depois do tradicional “olha o passarinho!” apresentavam a foto revelada que as pessoas compravam satisfeitas. Tenho aqui em casa uma fotografia de meu pai ainda mocinho andando com seus irmãos pelo Viaduto do Chá, os três de terno, gravata e chapéu. Deve ter sido um instantâneo, parece que eles nem se deram conta. É um retrato bonito que resiste ao tempo, tem quase cem anos!
Lembrei-me desses ‘retratistas’ porque ontem, estando numa festa de casamento, meu marido me chamou para tirar uma foto. Pensei que fosse com os noivos, mas não era. A um canto do salão, nos postamos diante de uma grande caixa preta. A moça ali ao lado apertou um botão e o flash espocou. Alguns segundos depois, saiu lá de dentro nossa fotografia revelada. Em preto e branco, bem nítida, com o nome dos noivos embaixo e a data do casório.
Aquela ‘caixa preta’ não era um depósito de segredos ameaçadores, como são alguns companheiros de políticos corruptos. A meu ver, mais parecia um lambe-lambe modernizado, bem adaptado ao século XXI.