A QUEM OUVIREI?
O Estado diz:
-“Se beber não dirija”
A linda filhinha diz:
-“Não corra papai”
O objeto é o mesmo, o carro. As razões literalmente opostas. Na primeira os altos índices de acidentes fatais geram a dor da separação, do filho que se vai, o marido, os avós que estavam no banco de trás, enfim enquanto escrevo esta crônica alguém esta morrendo na estrada geralmente num batida frontal... numa ultrapassagem proibida.
Na segunda a ingenuidade de criança que não tem uma visão clara da consequência, mas parece entender o risco da velocidade do seu papai. Entra em campo o prazer de ter um carrão, a vaidade da posse... meu carro é muito melhor e mais bonito que o do fulano...ele não tem um som igual o meu.
O passeio com a família, sucesso, realizações; a festa com os amigos, a pelada depois do serviço, e a cervejinha para comemorar.
Cervejinha para comemorar?
Claro, umas duas latinhas só, hoje é terça feira e tenho que levantar cedo amanhã pra trabalhar. Duas, três, cinco, a saideira. A responsabilidade se foi. Entra em campo a irresponsabilidade, a competição, o chegar em casa o mais rápido possível, já perdi um tempão la no boteco, acelerando, acelerando, o reflexo se vai e do outro alguém esta vindo como o mesmo pensamento. O semáforo esta fechado, mas a essa hora, é hora de estar dormindo, só eu estou na pista.
O telefonema... o SAMU... a perda.
As placas de advertência estavam lá. Trecho com alto índice de acidentes; o semáforo continua lá. Verde, amarelo, vermelho. Verde... Esta é a função do Estado. Em casa a mamãe chora, a filhinha sorri, brinca sozinha e espera.
A quem ouvirei?