RONCO NA MADRUGADA
Fazem alguns minutos que acordei com a boca seca, de uma ressaca da bebida que não bebi, são os efeitos da tal bariátrica. Vou até a janela e lá na avenida o som do motor de uma moto é esticado ao máximo até se perder no horizonte audível, assim trazendo a lembrança o ruído dos primeiros bondes da manhã que circulavam por ali mesmo há mais de cinquenta anos. Assim a moto vai levando o condutor até sumir no horizonte audível, mas sem antes deixar de cruzar o sinal vermelho entre as avenida Teresópolis e rua Carvalho de Freitas. Este é o momento que as pessoas parecem estar desemparadas, que se desligam de seus cordões, é o momento do descuido. Falta pouco mais de uma hora para o dia clarear, os turnos estão chegando ao fim, as boates estão fechando, ninguém quer mais arranjar incomodo, todos querem ir para casa descansar, então o rádio da radiopatrulha avisa que há uma desgraça recente, não há como espernear você é o destacado. Podem ser dois veículos que se abalroaram num cruzamento, a moto que não venceu a curva ou assaltante baleado. De volta a realidade quero dormir novamente, quero que os roncos se percam até o dia clarear, não quero ouvir estampidos, quero que todos cheguem em casa sem ressacas. Novamente o silêncio.