Foi mal!

Pois é... Num domingo primaveril desses em que a vida acorda com o canto dos pássaros, as borboletas voejam por sobre as flores e uma gota de orvalho faz a gente parar, foi que senti saudade da minha juventude, da minha beleza, da mulher que um dia eu fora, dos olhares masculinos, das cantadinhas sem malícias e das maliciosas também... E agora aquela sensação de invisibilidade me invadia... Precisava outra vez ser olhada, desejada, admirada... Então, súbito quis fazer parte daquele cenário. Procurei por mim mesma... Procurei pela mulher ardente e senti-a latente em mim... Me arrumei,me enfeitei,usei as duas últimas gotas do meu Chanel número cinco, calcei meu salto número quinze e lá estava de novo à antiga Linda, (segundo a minha vontade e intuição) e exalando e farejando feromônio, caminhava e pensava qual seria o primeiro homem a me olhar outra vez depois de tanto tempo... Como seria essa minha fantástica "volta por cima”, essa reviravolta na minha vida, essa súbita automedicação na autoestima... E segui, cabelos ao vento, faceira e saltitante acreditando que havia 'recebido" que havia baixado em mim, a antiga mulher... Agora,sim...Era eu ali novamente.Faltava-me apenas o primeiro assovio, o primeiro olhar ,um pequeno gesto que fosse, de admiração para eu ter de volta a vaidade perdida, a alegria de viver assim quase adormecida...E segui pelas ruas,pelos bares,pelas filas,finalmente pelas obras inacabadas procurando rostos, vasculhando olhares,na esperança de que tudo voltasse a ser como antes e nada! Já quase desistia dessa minha ,-digamos empreitada estético-emocional,-quando de repente,não mais que de repente e também lentamente, vai se aproximando de mim,assim como a fera se aproxima da presa prestes a atacá-la...Ele!Aquele deus grego!A visão do paraíso...Eu sabia...Nada como uma mulher disposta a se reinventar, a buscar mudanças...A se amar outra vez.Minha iniciativa havia dado resultado...Claro que eu esperava que chovesse na minha horta,mas que chovesse de mansinho...Mas aquilo me deixou sem fala e eu estática,muda e hirta,quase que hipnotizada ,sentindo a visão encoberta pelo monte Olimpo , fico ali esperando e ele vem e vem,e chega mais perto e mais perto e pára aquela muralha humana em minha frente,um menino de seus vinte e pouquíssimos anos,de braços fortes e ombros largos,olha fixo em mim, com aqueles olhos de avelã temporã,meu coração quer sair pela boca,a alma pelos poros e ele,aquela reencarnação de Zeus, abre os lábios vermelhos como as amoras silvestres do fundo do meu quintal e me diz docemente:(agora posso sentir o calor do hálito em meus ouvidos)...____________;"Tia, a bolsa tá aberta!”