Carrossel
Acordei com a televisão do quarto ligada, muitas vezes isto acontece. Um filme com Morgan Freeman, antes mesmo de virar para assistir começo a prestar atenção e percebo que é a história de um escritor.... Bem isto me lembra de uma reflexão que tive ontem, ao ouvir vários poemas e musicas, inteligentes, profundas na atividade promovida pelo Fórum de Cultura do Grajaú.
Belas letras, belas rimas, falando de vida, da vontade de vida.
Mas ali mesmo já reconheço que perderei muito do que escuto, se tiver muita sorte lembrarei da essência de algumas, se muita memória de uma ou outra estrofe, minha mente tão ligada as palavras nunca foi boa de decorá-las em ordem.
Aí lembrei de uma postagem de alguma coisa relacionada a língua portuguesa mais correta (argh) daqui do face onde se falava que minha querida quando nasce esparrama pelo chão , era na verdade algo chato como "batatinha quando nasce em rama pelo chão, ou algo que já -ainda bem- esqueci.
Juntando os dois pensares, comecei a perceber como é bom escrever, registrar, para que se possa ter contato com aquelas palavras mais vezes, refletir melhor sobre elas, dialogar com seus discursos. Óbvio que não acho que canções só tem valor escritas, sua lírica e sua harmonia, a completude do cantar e tocar são perfeitas, mas gosto de ver letras de músicas para entender melhor o que se canta, se eu conseguisse ler partituras provavelmente me deliciaria com seus detalhes também.
Mas estou fugindo ao meu pensar, pensava sobre escrita, sobre: Por que escrever? Como se precisasse de motivos para tal. Nem preciso, as palavras me tiram da cama, me produzem insônias, me carregam em divagações, me levam a diálogos intermináveis, internos e as vezes externados em conversas de voz alta onde os ouvintes são meus próprios ouvidos.
Sim! Escrevo para dialogar com mais ouvidos, ou olhos, seja lá que input forem, para dialogar com outros pensares, entendo que o que pretendo escrevendo, será apropriado de forma diversa por você que lê, e seu diálogo comigo vai ser dar por um comentário, por um "curtir", até por seu silêncio. Dialogamos com nossos livros, mesmo que seus autores nem vivos ,na forma física, estejam mais. Imortais palavras são assim significadas, Organizar o pensamento para falar já ajuda nossa mente, organizar palavras e esperar o tempo do digitar (no filme o escritor "catava milho") é um exercício de organização fantástico, um pequeno desafio superado por uma urgência de expressar e dialogar, no meu caso a dificuldade de manter uma escrita com letras ordenadas em palavras faz com que um claro gap se forme em minha mente e que a idéia se mantenha em um carrossel cada vez mais lotado até que algo se de por satisfeito e encerre o texto, mesmo sabendo que o carrossel não se traduziu de forma plena, a alegria do ponto final se faz na certeza que algum carrossel vai girar em sua cabeça, acredito na mente de quem escreve, porque acredito mais ainda na mente de quem lê.