Palavras Vazias
 

          Em recente evento literário, na Academia Paraibana de Letras, sob a coordenação do acadêmico Carlos Aranha, o professor Reynaldo Damazio pronunciou rica conferência, complementada por participado debate, sobre o poeta Paulo Leminski. Dentre as pérolas desse evento, achavam-se a “palavra”, sua forma, seu conteúdo, sua compreensão, sua extensão, e, sobretudo, sob seus aspectos lógicos, a sua adequação ao uso preciso do termo.  Significativamente, o escritor  e jornalista Reynaldo destacou que, em certa ocasião, perguntaram publicamente a Leminski  qual livro estaria lendo. Pergunta peculiar de quem deseja orientação para enriquecimento da leitura, curiosidade sobre o gosto literário do interrogado, e sobretudo para saber, eventualmente, qual é a novidade no mundo dos livros ou se o pretenso leitor lê. Leminski respondeu com simplicidade e sabedoria: “No momento, estou lendo dicionário”...

           Ri e gostei tanto da resposta que não a esqueci, fazendo crescer em mim o propósito de continuar comprando dicionários para se juntarem a dezenas deles já existentes na estante frontal da minha biblioteca; também  cresceu  a admiração por aquele poeta, e proporcionalmente o desprezo que alimento à presunção de quem não sabe e pretende nos iludir com um sofisticado repetido jogo de palavras, pronunciadas à pressa, como se estivesse a demonstrar fluência.  Leminski buscou no grosso livro das palavras a humildade de revelar que também não sabe palavras e que, como genial escritor, o que se chama vulgarmente de “pai dos burros” é fonte maior de alguns significados da palavra. A palavra que não significa, estando fora de lugar, é apenas “flatus vocis” (sopro de voz), vazia.

          A pobreza da linguagem é bem verificável naqueles que repetem sempre a mesma palavra, num curto espaço de tempo, como se fosse o nosso idioma qualquer língua “kusunda” , de poucos substantivos para muitos conceitos, de poucos verbos para muitas ações e,  ainda mais, de pouquíssima gente para divulgá-la corretamente.  Observem-se autoridades, usando repetidas vezes o verbo “ter”: “tivemos isso, temos isso, teremos aquilo, e por isso tenho de...” Bem entendeu Leminski que quem fala e escreve deve carregar consigo bons dicionários ou mantê-los ao alcance da primeira necessidade. Quando dava aula na UFPB a futuros profissionais da retórica, esclarecia-lhes que a palavra está para o orador ou o escritor, assim como a madeira está para o marceneiro; ou seja, sem madeira não se faz móvel; sem palavra, não há discurso. Sigo Leminski, ando lendo dicionário...