Democraticamente Escravo

Existia um lugar, que obviamente não era o Brasil, pois aqui se vive num paraíso, onde as pessoas eram livres para dizer e fazer o que bem entendiam, com algumas ressalvas é claro, pois toda regra há exceção, não é mesmo?!

Pois bem, naquele lugar você podia reclamar do mau funcionamento da Saúde, desde que não precisasse dela, pois de repente alguém que a administra poderia te privar o acesso de vez, aí que a coisa ia lascar mesmo, mas o importante é que se podia reclamar. Também era possível questionar sobre o mau desenvolvimento da Educação, já que você não fazia parte dela, pois se fizesse o que restava era se conformar, afinal de contas você é adestrado para balançar a cabeça e ratificar todo o sistema assim como fazem, racionalmente, os quadrúpedes.

Ali as pessoas podiam fiscalizar o dinheiro público, logicamente se não estivessem à mercê direta ou indiretamente doutrem, digo, se fossem donas do próprio nariz, pois se não fossem alforriadas, as coitadas iriam, democraticamente, parar no tronco – olho da rua. Se estivessem de alpercatas nos pés podiam questionar a conduta dos espertinhos que ditam as regras, do contrário, elas caminhavam sobre espinhos e sorridente, pois, é melhor ter feijoada no prato, que dormi de bucho seco.

O mais impactante é que aquele lugar confundia-se com a própria liberdade, pois todos, absolutamente todos, eram livres. Eram tão livres que escolhiam, por livre e espontânea pressão, perpetuar todo o sistema, e aí daquele que atirasse uma pedra no doutor, ele "fodia" com todo mundo, mas seu coração era bom, ele era um anjo que deixava os que ali estavam comer das sobras caídas ao chão.

Era triste ver como àquelas pessoas eram democraticamente escravas, mas a libertinagem que lhes era dada lhes fazia pensar que eram livres. Ainda bem que esse lugar não é o Brasil, muito menos ainda o Nordeste, pois afinal de contas por aqui todos gozam de liberdade plena, desde que não seja pobre é claro.

Wanderley Barreto

S.J do Cariri 23.11.13