VÓ AUGUSTA
Vó Augusta não sabia o que fazer com todo aquele dinheiro ( diferente do resto da família). Quase Dez anos de aposentadoria guardados como se fossem. Os últimos. Sempre escondidos dentro dos bolsos de seus vestidinhos remendados. O dinheiro era tão bem guardado que os micos e as araras, coitados... mal conseguiam respirar. Não difícil, o passatempo da alegre velhinha era contar todo santo dia aquela rica quantia. Notinha por notinha. Na verdade, vó Augusta era mesmo muito avarenta. Indiscutivelmente. E quando alguém lhe perguntava o que faria com aquela quantia, a velhinha dava uma risadinha quase demente acompanhada pelo mesmo discurso:
- Vou queimar tudinho de uma vez só!
Aquilo só deixava todo mundo mais agoniado. Em que aquela velhinha queimaria tudo de uma vez? Numa mansão? Num carro?
As mais intrigadas eram Madalena, Santina e prima Querluz. As três juntas conseguiam ser mais interessadas em dinheiro do que qualquer bando de políticos juntos e aquele mistério de Vó Augusta era “por demais de gasturento!”, como dizia Querluz.
Valdir que era filho Santina , decidiu falar com a avó. Talvez a avó estivesse confusa, ou mesmo precisasse de uma dica de como aplicar aquele dinheiro ( na verdade todos ali possuíam uma “dica”).
A pobre velhinha quase centenária, porém não queria saber de conversa fiada. De forma relutante a vovó não dizia nada sobre como iria gastar o dinheiro.
Passou-se um mês, seis meses, um ano e nada. Toda manhã Vó Augusta contava seu farto tesouro e até que o dito dia chegou! Enfim tudo se resolveria ( ou não). Todos acordaram assustados naquela madrugada fria. Ao ver aquela cena, Tia Madalena precisou ser amparada pelos outros parentes. Santina chorava desolada e Querubina... Bem... Querubina nem falava. Estava estática. Os olhos cheios de lágrimas prevendo o pior. De todos, apenas Vó Augusta sorria ao ver aquele fogaréu queimando tudo o que tocava. Se não fosse Valdir, não só as notas queimariam, mas toda a casa. Sim... As notas... O rico tesourinho de Vó Augusta agora se reunia em meia dúzia de pedaços queimados de um dinheiro sem valia. A velhinha apenas batia palmas como se aplaudindo um nobre espetáculo. Talvez estivesse realmente caduca. Não se sabe bem.
Ao seu lado, uma lata vazia de querosene e uma caixinha de palitos de fósforos. A sua frente uma fogueirinha de dinheiro.
Na juventude, Augusta cultivou a cobiça e a sovinice. Agora, a beira de tornar-se novamente semente, percebeu que dinheiro demais em mãos e mentes erradas só trazia preocupações maiores. Queria entender a real sensação de queimar dinheiro. Queimou e viu que era bom mesmo. Entendeu na prática também o motivo pelo qual quando alguém torra dinheiro outros ficam desesperados.