COMO A SEDE E A FOME

Onde existe uma bela Lagoa e um lindo Jardim Botânico

Há também pobreza e violência entre os encantos

E há um povo todo em pânico...

Há pessoas que moram num Palace, há outras que vivem no Calçadão

Há assaltos em Ipanema, sequestro no Humaitá,"bala perdida" no Leblon

A miséria, não se rende à beleza da Gávea

Não faz orações pra São Conrado, nem eleva preces a Santa Tereza

Pois até mesmo na Urca ou do Corcovado

Pode-se enxergar dor e tristeza

Certa vez, um mendigo no Arpoador me disse ironicamente

Que talvez até o Redentor sinta fome

Já que o Pão De Açúcar não se come

Uma outra moradora de rua no Catete, me disse que morrer por inanição

Não traz nenhuma Glória

E que o seu finado marido, o Sr. Cosme velho, como era conhecido

Costumava dizer que na escola do mundo

O pobre que não tem dinheiro nem pra comprar merenda

Não tem direito ao Recreio

A Barra da Tijuca é dos "boleiros", dos milionários, dos empresários

Todos os ricos como os de Botafogo e os Do Flamengo

a veem como barra de ouro dezoito quilates(18 K)

Já os pobres não a veem nem como barra de chocolate

Para matar-lhes a fome, antes que ela os mate

Qual é a Real Grandeza dos exilados de Copacabana,

Dos indigentes do Aterro, dos famintos da Beira-mar

Cujos frutos das Laranjeiras eles não podem alcançar

Muito menos as mãos quase sempre encolhidas

Dos que são e estão entre os considerados chiques e famosos

Sempre em direção ao ponto mais alto

Galgando de qualquer maneira, degrau por degrau

Em fim, em qualquer lugar do mundo ou do Leme ao Pontal

Como a sede e a fome não há nada igual.