Partida
Contemplo a luz do sol correndo despercebido, com ele nascem tempestades silenciosas. O açoite dos olhos de quem mais se ama, golpes dolorosos das mãos que lhe acariciam. Estou só, caminhando nessa estrada. Me atento para as mãos gentis que me servem vinho. Consoladores inconscientes e distraídos completam minha nostalgia permanente.
Brisa que trás seu perfume, me trai com lembranças perturbadoras. Incontáveis ilusões sofridas surram minha alma egocêntrica, que traiu a si própria, quando te deixou na chuva gélida de inverno, implorando pelo ultimo trem, que se foi com nossa história inacabada. Acúmulo de dores fúteis e inesperados, como ondas de mares traiçoeiros.
Lágrimas regam meu interior, que sangram a cada novo passo teu. Sorriso ensaiado por artifícios mentem tanto quanto teus olhos, que imploram o meu socorro em vão. Covarde sou eu em meio a essa plateia morta. Cegos e leigos não veem meus joelhos dobrados, almejando pela inexistência desse fantasma sombrio e persistente, tão solitário como nós em segredo.
Sofrimento mórbido e acomodado pelo tempo, rasgam esse sólido coração. As nuvens cinza que ameaçam meu céu fizeram morada em meu mundo estreito, onde meus pés dançam em vidros afiados. Amor eternizado nas rochas, lapidado por um destino turvo e brincalhão, nos faz reféns dos anjos negros. Vulcões de sentimentos que queimam por dentro me lançam aos seus pés generosos.
Tua luz com efeito doce me afoga no lago de ilusões e sonhos, emergindo passados e um futuro esperançoso de nunca esquecer o ritmo cantante da tua respiração suave, acomodada em minhas correntes, onde é tua morada. Berço melancólico e vazio é o que me cerca agora, vendo tua miragem distante, partindo com essa rocha que bate em meu frio interior.