Maio de 2005: deletaram o PaparazziNET. Eu estava lá!
"Podemos ficar unidos mesmo em grandes distâncias"
Ricardo Cruel
A caixa de Pandora ou uma simples pasta com arquivos no meu notebook? Vagueando sobre os novos grilhões que nos cercam, dos quais não podemos zombar - as cerquilhas -, pus-me a vasculhar os confins do meu HD à procura de uma monografia de 2005. Deparo-me com uma pasta chamada “Entrevistas da Panelinha”. Arquivos do Word, diversas fotos e logo me veio à mente: #nostalgia. Justamente a esta cerquilha estou algemado, sendo obrigado a usá-la caso queira fazer ecoar minhas palavras por essa terra de ninguém, a Internet. Ah, a Internet...
Como quem mira um telescópio à constelação de Órion, em busca de desvendar os seus mistérios, revirei a pasta de arquivos a me deliciar com diversas histórias e seus personagens, desenvoltas neste ciber-universo. Com uma diferença: nesse universo, eu sou o telescópio! Bati papo no MSN, ICQ e MIRQ, esquentei o Caldeirão com Gledson, Alessandra e cia., fui um FBI com Junior Inoue, participei dos mais diversos Chats on-line, Paltalk, Yahoo Groups, MSN Groups, blogs, fotologs, vlogs e onde mais você imaginar, saiba: eu estava lá!
Velhos tempos da Internet do início a meados dos anos 2000, principalmente para um jovem da CCB, cheio de espinhas na cara. Tudo começou na velha e saudosa Bíblia World, mais tarde incorporada ao UOL. E o lance era simples: join com apelido acrescido de três asteriscos, uma referência às três letras da sigla CCB. Todos éramos anônimos, aos poucos se conhecendo. Com o lançamento do MSN Groups, pudemos sair dos fóruns carcerários a respeito da doutrina da CCB e fomos discutir o que fazer após o culto. E foi aí que essa realidade virtual se transformou em virtualidade real: Paparazzi Meeting 2004, em São Paulo. Conhecer todas aquelas pessoas, conversar pessoalmente e poder sorrir sem ter de digitar “rs” ou repetir indiscriminadamente a letra k. E uma perniciosa vontade me veio à cabeça: criar meu próprio grupo.
Aproveitando todas aquelas mais de seis mil pessoas que “curtiam” Amigos do Urso (todos sem nem se dar conta de que o Urso era o Gledson) e ávidas por possuir um álbum no PaparazziNET, me fez, logo em seguida, dar vida à Panelinha, ao lado de Gabryelle Zawer, por todos conhecida e por ninguém, jamais, vista. E a Panelinha, com suas postagens e entrevistas no Flogão conquistou, além de um milhão de acessos em apenas três meses no ar, amizades e parcerias clássicas e alguns inimigos notórios como o Ary (CCB Jovem), Grillim (Virtual CCB) e o Professor Bene. Mas meu arqui-inimigo era o Paulo Júnior (Umbigo do PJ). Era o Coringa da minha Gotham City! E sua entrevista foi justamente o primeiro dos arquivos que acabei de acessar nesta pasta.
A entrevista, na verdade, não era a original postada na Panelinha do Danger em 23 de março de 2005, a qual foi deletada arbitrariamente por Marcela, em abril. Mas uma versão “atualizada” do próprio PJ postada pouco antes do desastroso fim dos grupos PaparazziNET e Umbigo do PJ. Nessa entrevista, PJ afirma ter sido Júnior Dexter o criminoso por trás do gatilho. Sem argumentos. E muitos acusaram o PJ, também sem argumentos. Mas o fato é que nem mesmo André Berbill, Flavinho, Gustavo Prodocimo, Daniel Pereira, Milena Campos, Alessandra, o Sombra, ou mesmo eu, então o DangerNET***, sabia quem era o culpado. Em seguida nos veio um boato, uma notícia bombástica: o próprio Ricardo Cruel, owner do PaparazziNET, efetuou a exclusão do site após receber a visita de um anjo, durante um sonho. Balela! Ricardo Cruel foi o primeiro a desmentir essa versão.
A dúvida ainda permaneceu, mas logo em seguida o Umbigo do PJ foi excluído. Não fez falta! E só quem perguntou e procurou pelo culpado foi o próprio PJ. E até agora eu ainda não havia confessado (risos).
Eu exclui o Umbigo do PJ. Aproveitei que o Paulo Júnior criava vários e-mails e os colocava como gerentes secundários do site e roubei a senha de um desses e-mails (pjseculo21). Não consegui efetuar a exclusão direta do site, pois não estava na função de "owner". Entretanto, destituí os demais e-mails de suas funções gerenciais e fui excluindo o conteúdo, pouco a pouco, até não existir mais nada.
Pouco mais de três meses depois a Panelinha do Danger também foi alvo de hackers e deletada. Algumas entrevistas estavam prestes a ser postadas; algumas polêmicas, como a do ex-irmão Ricardo Adam, outras bombásticas, como a de Ricardo Cruel (também chamado Roger Ricardo, owner do PaparazziNET). Um novo formato de entrevistas havia sido criado e com a ajuda investigativa de Gabby Zawer, estávamos em mãos com a resolução do crime que chocou a CCB.NET*** em 2005. No entanto, a Gabby se demitiu da Panelinha. Marcela e suas primas de Imperatriz-MA também. Por fim, só quem ficou fomos Débora e eu. Mas Gabby levou consigo o trunfo da descoberta: quem deletou o PaparazziNET Group em 2005?
E como uma maldição de Tutankamon, a próxima vítima foi a Panelinha do Danger. Mas já a Internet não era a mesma. Foi rápido e o Orkut já era o centro das atenções. Os jovens, as crianças, os de meia-idade e até os velhos, todos viraram suas atenção para o Orkut. E eu estava lá. Eu fui um CCB Pirado, juntamente com Heloise Guill. Beltrano, e toda sorte de mídias sociais, até o Facebook, quando em 2010, já como U-Dan, resolvi me retirar do mundo virtual e recolher minhas lentes teleobjetivas, com as quais capturei imagens desse universo, tão fantásticas!
Já hoje em dia não temos a mesma coisa. As pessoas são outras. Não temos a mesma alegria, as mesmas conversas, os mesmos encontros. Os velhos amigos do bate-papo em tempo real deram vaga às postagens tipo scrap em massa. O que perdemos em criatividade ganhamos em idiotice. E a antiga chatice e censura dos velhos fóruns do início dos anos 2000 voltou. Como se a rede fosse a causadora dos tanto males que nos assolam...
Daquele tempo, quem não casou se desviou. E até mesmo muitos dos que casaram, ficaram pelo meio do caminho. Cada um, assim como o próprio Cruel, quis se dedicar à vida real. Poucos permaneceram como antes.
Nunca ninguém me perguntou quem foi que excluiu a Panelinha do Danger ou por que ela foi excluída. Mas sempre quando reencontro algum remanescente daquela época de ouro da CCB.NET*** (Internet entre o povo da CCB, como ficou conhecida), me vem logo aquela pergunta: - E aí, conseguiu descobrir o que foi que aconteceu com o PaparazziNET? O que aconteceu é simples: foi excluído.
Sabe... Pensei em jogar um CD por baixo da porta de todos aqueles que também viveram aquele momento: das salinhas aos grupões. Mas não os encontro. Hoje não se usa mais apelido...
Neste CD está contada em áudio, vídeo, texto e foto toda a história daqueles anos míticos. E lá está desvendado o mistério que já dura quase uma década. Lá, Gabby revela o teor de seu encontro com Ricardo Cruel. Mas hoje já não é mais tempo de Gabryelle Zawer. A Internet já não tem mais espaço pra ela. Hoje já os perfis são verdadeiros, com nomes, fotos e vidas reais. Mas os apelidos marcaram uma época e construíram um ícone marcado pelo anonimato. Também Gabryelle não existe. É fruto daquele tempo... E, quem sabe, consigo está enterrado todo esse segredo. Foi Zawer quem excluiu, definitivamente, o PaparazziNET, e o fim desse grupo foi o início de uma nova era na CCB.NET***, uma revolução, marcando assim, também, o seu próprio fim. Eu seu disso. Eu vi tudo.
Eu estava lá!