IRONIA DO DESTINO
Ainda quando fazia a faculdade, o professor de Direito que também advogava, contou-nos um caso que se passara em seu consultório. Isso aconteceu bem antes de 1977 quando ainda não existia o divórcio no Brasil. O que se passa abaixo é o diálogo entre o advogado e seus clientes.
Uma senhora rica diante do advogado.
- Doutor, eu quero me desquitar. O senhor trabalha com desquites?
- Sim, mas só aceito abrir processo depois de a senhora me contar todas as razões dessa separação.
Após ouvir a consulente eu lhe disse:
- Não vou aceitar abrir um processo de separação, porque não vi razões. A senhora nem conversou com seu marido que lhe dá todo o conforto. A senhora tem quatro auxiliares em sua casa que faz todo o trabalho doméstico, enquanto a senhora passeia e vai tomar chá com suas amigas. Quando seu marido sai para o trabalho, a senhora ainda dorme. O café é servido ao seu marido por uma auxiliar. Ele não vem almoçar em casa. É alto executivo de uma multinacional, trabalha estressado. Quando chega à noite, a senhora já jantou e o jantar dele é servido novamente por uma de suas auxiliares. Durante a semana não fazem refeições juntos, nos fins de semana vão almoçar e jantar fora e em vez conversarem sobre a resenha da semana, ainda brigam. Sexo raramente acontece. A senhora não está sendo injusta? Homem, quando sai para o trabalho, gosta que a esposa faça algum comentário, mesmo que seja sobre a gravata se o nó está torto, se a cor combina com o terno e a camisa, etc.
- Chegando ao trabalho ouve os colegas dizerem: - Ontem minha mulher preparou um almoço que estava divino. E ele fala o quê? Certamente não falará nada, porque nada a senhora fez. Isso minha senhora vai acumulando, vai magoando, torna a pessoa solitária e se isola. A senhora está sendo muito injusta. Não aceito iniciar um processo de desquite para o qual eu acho injusto.
- O senhor está fora da realidade, é um advogado retrógrado, pseudomoralista e ainda quer dar uma de psicólogo. Aonde foi que vim procurar um desquite, só essa me faltava, o senhor não é de nada. Passe bem.
Passado um ano entra um senhor em meu consultório e me pergunta:
- Quanto o senhor cobra para fazer um desquite?
- Sem saber se é justificável, eu não aceito.
Mas ele insistia, tirou o talão de cheques do bolso e isso me irritou, para mim foi um acinte e insistia até que eu lhe disse:
- Chega, não vou pegar sua causa e o senhor pode se retirar.
- Doutor, não vou me retirar, não vim aqui para discutir e nem vim aqui para fazer um desquite, quero saber quanto o senhor cobra, porque quero lhe pagar por uma reconciliação. O senhor consertou minha mulher e vim agradecer-lhe. Vivemos em paz hoje graças aos seus princípios.
Leitores, a minha maior surpresa veio pouco tempo depois quando soube que o professor era desquitado. O destino levou-me a ter um colega de trabalho que era filho desse professor. Isso é ironia do destino. Para refletir.
SANTO BRONZATO em 20 de novembro de 2.013.