Botei a mão no bolso e não encontrei nada

Acho os restaurantes por quilo uma crueldade dos tempos modernos. Isto é, ninguém consegue comer tanto quanto gostaria. E, considerando que os preços estão cada vez mais altos, também estamos colocando cada vez menos coisas dentro do prato. Eu pensava nisso enquanto me servia e ponderava se mais uma colherada de arroz não iria causar um rombo no meu orçamento. Naquele dia eu estava especialmente esbanjador, então não apenas coloquei mais arroz como também acrescentei uma rodela de tomate. E me encaminhei para a hora da verdade, ali representada por uma balança. Ela acusou aproximadamente R$ 11, o que dei por aceitável.

Mas acontece que aquele restaurante em especial não parece confiar em seus fregueses. Tanto que exigem o pagamento já na hora de pesar. Com o prato ainda em cima da balança, botei a mão no bolso direito da calça, onde costumo guardar os meus trocados. Curiosamente, não encontrei nada. Passei então para o esquerdo, onde encontrei as minhas chaves e algumas poucas moedas de R$ 1. Restavam os bolsos traseiros, absolutamente vazios. Em pânico, recomecei a olhar bolso por bolso. Era impossível que eu tivesse esquecido o dinheiro em casa. E, no entanto, eu não o encontrava em parte alguma.

E o caixa lá, esperando. Já certo de que estava sem dinheiro, comecei a pensar no que fazer. Correr para o banheiro? Simular um ataque epiléptico? Começar a chorar? Oferecer-me para lavar os pratos? Acabei confessando: “Acho que perdi o meu dinheiro”. O caixa olhou para mim, me avaliou, e tirou o prato de cima da balança, pois havia mais gente na fila. Eu sentei-me e retomei a busca pelo dinheiro, sem sucesso. Dali a pouco um dos atendentes veio me trazer o prato. O caixa estava me oferecendo. Em agradecimento entreguei-lhe as poucas moedas que tinha. Ele as recebeu com cara de “não, que isso”. E assim fiquei também sem o dinheiro da passagem para voltar. Vim a pé, caminhando por mais de uma hora. Fazendo a digestão.