GAUDEAMUS, IGITUR !

GAUDEAMUS, IGITUR !

"Gaudeamus, igitur, / juvenes dum sumus. /

(...) post molestam senectutem / nos habebit

humus". (imensa canção estudantil muito

comum nas Escolas, nos anos 1950/60)

" -- Vai trabalhar pelo Mundio a fora, / eu

estarei até o fim contigo!" / Está na hora,

o Senhor me chamou... / Senhor, aqui

estou"! (Hino do Seminarista -- trecho)

Arco-íris encantado, / em mil tons de

claro-escuro, / a foto é belo Passado /

presente en nosso Futuro.

"NATO" AZEVEDO (trova)

A lembrança mais viva que tenho do Seminário Menor S. Vicente de Paula / SMSVP, a mais presente, não é de nenhuma pessoa, seja professor ou alunos. O que me volta à mente toda hora é o som "arranhado" de um velho LP de piadas que, de vez em quando, alguém punha para tocar por meio dos alto-falantes externos que -- se não me falha a memória -- os 2 prédios maiores possuíam.

As piadas eram da dupla de "caipiras" italianos Vittório e Marietta, espécie de "Fernandinho e Ofélia", só que os dois diziam "abobrinhas" e barbaridades crassas, prontamente corrigidas pela sobrinha do casal, que os acompanhava onde quer que fossem. Sentado na arquibancada de cimento disposta ao lado do extenso campo de futebol, eu ouvia e reouviadias e dias as mesmas piadas, sem me cansar delas. Era a "compensação" por não jogar bola -- uma ferida "incurável" na perna direita me impedia -- assim como também não podia nadar na enorme piscina que ajudei a construir, carrinhos e mais carrinhos de aterro tirados (e, adiante, repostos nas laterais) ao custo de muito suor.

Ser reciclador -- apesar dos contratempos e dificuldades -- tem suas vantagens... vez ou outra "garimpamos" verdadeiras preciosidades, jóias raras do Passado, lembranças perenes que o Tempo não destruiu. Eis que, recentemente, me caiu nas mãos cansadas um LP perfeitamente conservado de "VITTÓRIO E MARIETTA". Não, não eram italianos... eram atores brasileiros, nos primeiros dias da TV nacional, nos anos 50 e os disco reproduzia os "esquetes" (quadros, cenas, num Inglês técnico) de um programa de humor.

Mas, voltando ao futebol, entre meus muitos pecados juvenís estava uma mal disfarçada "raiva" do Pe. Milton. Lembrando no perfil o atacante Domingos da Guia, o padre era o "Zico" da época, ágil, com visão de jogo, preciso nos passes, certeiro nos chutes. Mina "bronca" se tornou maior no segundo Ano letivo, era quase sempre este padre o Confessor da classe inteira e eu só pensava em "sacanagens"... de dia, de noite e de madrugada.

Adiante, para não ficar sozinho no banco da Capela repleta de seminaristas, seguia "contrito" a fila de futuros diáconos, para a Comunhão diária, embora lotado de pecadinhos. Garanti um belo "caldeirão" no quinto dos Infernos e, quando Pe. Domingos me chamou ao seu gabinete, "tropecei" de novo com o Pe. Milton.

Recebera êle a ingrata "missão" de me interrogar a respeito das mensalidades muito atrasadas, creio eu que do ano anterior ainda (1965), porque meu pai "se especializara" em "enrolar" os Colégios nos quais meu irmão e eu estudávamos. Hoje o Destino me reapresenta alunos com os quais estudei, naqueles belos anos. Pois saibam todos que lhes sou MUITO GRATO, a pontualidade de seus pais (e parentes) sustentou minha forçada inadimplência. Precisei de colossal coragem para enganar meus tios sobre a data real de reingresso (para o 3º ano letivo) no Seminário e sepultei de vez o sonho da beata dona Anita de ter um padre na família.

Me sobraram saudades eternas daquela época, o nascimento do amor pela Música (que jamais abandonei) e a vocação para escrever, "herdada" da inveja pueril que sentia dos autores das "Efemérides do Seminário Menor", Augusto Spisla e Aloísio Cansian. Na curva do Destino, vim a saber 45 ANOS depois que "revisavam" tanto os escritos da dupla que pouco sobrava do original. Pois estão INTIMADOS ambos a postarem o que bem entenderem agora, as memórias de cada um merecem eternizar-se neste espaço cibernético, convite aberto A TODOS os que frequentaram as amplas salas e os extensos corredores do Seminário Menor, em Araucária, Paraná.

Diziam as más línguas que se colocava um "pózinho branco" na cisterna da cozinha... tem muitas outras histórias que podem ser esclarecidas por alguns dos que passaram por uma das melhores Escolas que oBrasil conheceu.

Devo ao SMSVP muito mais do que dinheiro... devo TUDO (ou quase) o que sou, devo o interesse por livros e idiomas, devo o brilho da inteligência que suponho ter, devo a maior parte dessa Cultura inútil que açambarca meu cérebro em permanente curto-circuito e que os basbaques -- que a Vida produz em cataratas -- admiram tanto. Devo ao Seminário crenças, conceitos, comportamento, caráter, visão do Mundo e personalidade... e isso não tem preço!

Com ajuda ou sózinho, inauguro este Espaço virtual que RESSUSCITA o Seminário Menor São Vicente de Paula, como preito de gratidão a uma Escola de primeira grandeza, com mestres dedicadíssimos, numa época em que ENSINAR era vocação, mais do que profissão.

Minha homenagem a 2 sacerdotes que tiveram imensa influência na construção do meu Destino: os Padres Domingos -- que tenho a sensação de que era chamado de "Dominique" -- e Jorge Morkis, músico e diretor do Coral, no qual dei meus primeiros passos (digo, forgeios) no mundo da Música. Através deles, PARABENIZO todos os padres que passaram pelo SMSVP e a êle dedicaram boa parte de suas vidas. DEUS LHES PAGUE !

Padre Domingos era um "gentleman", figura boníssima, elegante no porte e simpático nas atitudes. Curiosamente, não me lembro de ter visto aluno nenhum conversando com êle, nem os mais antigos. Na Educação da época, o respeito aos adultos incluía não conversar com idosos, a não ser que fosse absolutamente necessário.Como os tempos mudaram...

Aos sábados à noite -- e domingos também, salvo engano -- Pe. Domingos reunia o Seminário inteiro no vasto salão de estudos e, dono da festa, contava estórias e resumia romances épicos, com um charme sem igual, a platéia hipnotizada pela habilidade do narrador em conduzir os enredos. Ali nasceu meu interesse pela leitura (que nem é muito, até hoje!) e pelos romances de época,minha diversão predileta e base de minha "gestalt" de escritor. Meu Seminário querido, o quanto te devo!

'NATO" AZEVEDO (poeta, escritor e compositor)