Terror no corredor do apartamento 301

Era um a manhã feliz como outra qualquer, quando decidi fazer algo que raramente faço hoje em dia; Ir a uma feira livre. Sempre foi meu programa predileto quando morava no interior, e lá funcionava como um ponto de encontro entre amigos para um bom papo no botequim, uma cervejinha, uma boa cantoria, mas aqui na selva de pedra, eu realmente, fui privada desse lazer barato, no sentido mais literal e amplo do termo. Em cidade grande não se encontram feiras completas como a poética "Feira de Mangaio" cantada em prosa e verso por Clara Nunes... Pois bem, eu estava,- talvez influenciada pelo globo repórter, pela Cozinha de Nigela e pelos conselhos das minhas amigas "Olívias",- a fazer uma dieta, razão pela qual, havia decidido ir eu mesma buscar as frutas, legumes e verduras frescas lá na feira livre. De quebra,daria uma espairecida nos olhos e na mente.Quem sabe encontraria algum conhecido,sufocada que estava morando em condomínio onde ninguém cumprimenta ninguém, ninguém conhece ninguém,onde as pessoas economizam a boa educação e racionam o seu "Bom dia".Depois de tudo comprado,devidamente embalado,vou eu subindo a ladeira Augusto dos Anjos,esquina com Castro Alves para pegar a Casimiro de Abreu a minha linda rua,quando noto um homem que segue os meus passos,logicamente tomando a mesma direção.E fomos ,eu e ele numa cadência angustiante para mim, talvez de deleite para ele, que não tomava a dianteira,quem sabe apreciando o vai e vem dos meus gordos quadris,eis aí um bom motivo para eu querer emagrecer...Disfarçadamente olhei para trás na esperança de que fosse alguém familiar e nada me acudiu a retina.E prosseguia .Diminuía os passos e ele por sua vez, fazia o mesmo. Nada de me ultrapassar. Continuamos... Dobrei a esquina da Castro Alves e o homem ali... Fiz todo o percurso até o começo da Casimiro de Abreu e ele ali. Fui me sentindo incomodada. Parecia minha sombra. Finalmente, atravessei a rua, subi na calçada do meu prédio e alcancei a reta final...E o homem ali...Cheguei ao portão,parei.Pensei em qual seria a opção mais rápida:Digitar a senha,ou abrir com a chave e zás! Abri com a chave. Um arrepio me percorreu gélido da espinha ao calcanhar,quando o homem entrou comigo me fazendo entrar em pânico por dentro.Ninguém nos corredores. Optei por subir de escadas. O homem desprezou o elevador. Me acompanhou escadas acima.Subi um lance, o homem mudo atrás e eu na frente, gelada de pavor.Subi o segundo lance,terceiro, e o homem ali mudo e calmo.Peguei o corredor que dava acesso ao apartamento 301 e pensei por que aquilo se chamava corredor, se a gente não tinha para onde correr.Girei a chave na fechadura.O homem também parou.Tive a certeza.Era mesmo um assaltante.Agora eu podia sentir o hálito do homem nas minhas costas.Encomendei minha alma ao criador e pensei comigo mesma;É tudo ou nada! E a plenos pulmões fiz ecoar um grito de pavor e socorro pelo condomínio inteiro!O homem me pegou pelo braço e enquanto escrevo esta crônica ainda escuto o eco do segundo grito que dei!- e disse suavemente: - Está se sentindo bem, posso ajudar, senhora?Sou o seu vizinho do 302!E eu pálida e semi desmaiada,recuperei a fala e gaguejei: -Sou a vizinha do 301!Hoje quando acordei de manhã, ouvi que ele escutava a música: “Quintal do vizinho” de Roberto Carlos, que diz: ‘Hoje eu abri a janela, o dia estava tão lindo do outro quintal o vizinho sorrindo “... E eu lembrei do meu sonho... Do sonho que tive de entrar no quintal do vizinho e plantar uma flor!