Mais rápido do que ir a pé

Ainda meio perdido na Rodoviária de Curitiba, bastante bagunçada pelas obras para a Copa do Mundo, dirijo-me ao portão de embarque que me coube e espero a chegada do meu ônibus. Dali a pouco senta ao meu lado um senhor idoso, de boné vermelho, que começa a puxar conversa. Pergunta para onde estou indo. Fica espantado quando digo Brasília: “É meio longinho, né?”. Com uma ponta de orgulho por me submeter a tamanho sacrifício, confirmo: “Um dia inteiro de viagem”. Praticamente a eternidade, se compararmos com as duas horas de avião. Por outro lado, ainda é mais rápido do que ir a pé, coisa que demoraria cerca de 14 dias.

Se há alguma vantagem nesse tipo de viagem, além do preço da passagem, é poder acompanhar o trajeto cidade a cidade, observando suas paisagens e, eventualmente, seus habitantes, o que me leva a imaginar que tipo de vida levam e como seria se também eu morasse entre eles. Tenho um grande desejo de observar cidades e isso não é de maneira alguma suprido pelas viagens de avião, quando tudo o que posso fazer é especular a quais cidades correspondem as manchas lá embaixo.

Dentro de um ônibus, no entanto, sei exatamente quando estamos passando por Ponta Grossa, Ourinhos, Marília, São José do Rio Preto e – principalmente – as cidades mineiras. Provavelmente de tanto ler escritores que cantam as Minas Gerais, tornei-me bastante simpático a elas e mais de uma vez achei que daria um bom mineiro. Infelizmente, sempre que passei por Araguari, Uberaba e Uberlândia era tarde da noite, então não vi muita coisa – mas foi com emoção que fiz esse trajeto. Emoção e muito sono, porque não consigo dormir dentro do ônibus.

Quando chego a Goiás, começo a duvidar que eu esteja fazendo essa viagem. Goiás! Estou mesmo tão longe assim? Lembro que pessoas acordaram, comeram, trabalharam, assistiram TV, voltaram a dormir e eu ainda estou viajando. Quando finalmente chego, só não estou mais cansado porque penso no sujeito que decidiu ir a pé.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 18/11/2013
Código do texto: T4576217
Classificação de conteúdo: seguro