É feriado nacional

Feriado pra mim é quando eu vejo a minha mãe. Feriado ou dia de festa. Porque ela não para em casa – nem fim de semana. Eu pensava que depois que ela terminasse os cursos dela eu poderia vê-la mais vezes. Mas que nada! Parece que ficou ainda pior. Porque agora ela arrumou mais um emprego. No total já são três: um de manhã, outro à tarde e noite, e mais um de madrugada. Eu só conheço a minha mãe pelo cheiro. Quando ela chega em casa eu já estou dormindo, mas eu sinto o cheiro dela quando vem me cobrir. Eu adoro esse cheiro.

Minha mãe quer terminar a casa. A gente já conseguiu construir duas peças, mas falta muita coisa ainda. Falta um muro, por exemplo. Só tem uma cerquinha, que qualquer um pode pular. Volta e meia alguém entra aqui pra roubar. A gente já não tem muita coisa e ainda roubam. No começo foi pior. Quando viemos pra cá não tínhamos nem o terreno. Faz pouco tempo, eu tinha 4 anos. Meu irmão não tinha completado 2. A mãe tinha 25, e pelo menos tava melhor do que na infância.

Quando ela ficou maior de idade, meu pai tirou minha mãe de casa. Ainda bem, porque ela vivia como escrava na casa da minha avó. Na verdade nem é minha avó, porque a mãe foi adotada. E essa avó era meio doida, ou malvada mesmo. Batia na minha mãe por nada, jogava no chão, pisava na cabeça dela, deixava dormindo ao relento, passando fome. Meu avô viajava muito, então nem via tudo o que a mulher fazia. Às vezes minha mãe fugia pra casa de uma tia, mas minha avó sempre aparecia pra buscar. Até que a mãe adoeceu e vivia no hospital. Acho que era depressão profunda. Quando saia do hospital e voltava pra casa dos meus avós, ela adoecia de novo. Foi assim durante uns 3 anos. Ela só melhorou mesmo quando meu pai a levou embora.

Mas acho que não é bom lembrar dessas coisas. Ainda mais hoje, que eu sei que vou ver a minha mãe. Um pouco que seja, mas vou ver. Não apenas cheirar. Isso me faz a menina mais feliz do mundo. Hoje, mais do que nunca, é feriado nacional.