A PROPÓSITO DE ANIMAIS E HOMENS
 
De Voltaire,  dirigindo-se ao anatomista a respeito de  experiências
de vivissecção praticada num cão: “  Tu  descobres nele  todos     os  
mesmos    órgãos       do   sentimento    que    existem    em            ti,  
responda-me,  mecanicista,   a   natureza   articulou   todos           os
os mesmos órgãos do sentimento nesse animal,  para  que ele    não
sinta? Tem ele nervos para ser impassível?”
 
Tem  mais: diante da incerteza do homem quanto a natureza do animal, Pierre Gascar debruçou-se  profundamente sobre tema no seu “L’Homme et Animal”  onde nos convida a parar para pensar e experimentar o teste de olhar a olhar com o seu cão. Palavras dele: “ Seu olhar parece, muitas vezes, vir de mais longe do que o nosso, e a gravidade que o distingue nos fascina e nos espanta. Ele dilata as fronteiras desta vida mental que nos esforçamos, em nosso íntimo, por reduzir à lógica, á razão.” Ele, também, questiona a alma do animal e foi buscar na religião alguma luz, o que não conseguiu, a  “Escritura é muda e vaga”. No entanto, ele cita Ecleciastes: “ Há apenas um único espirito para todos: a vantagem do homem sobre o animal é nenhuma, porque tudo é vaidade.” Lembra, ainda, que o homem e o animal têm sobre a terra, o mesmo destino e interroga: Quem sabe se o espirito do animal desce para a terra?

Para os que tentam fazer experimentos científicos nos animais, lembro as palavras de Bossuet, que disse: para bem julgar os animais, o homem nada  tem a fazer de melhor do que estudar-se a si próprio. Existe um outro ponto interessante e quem nos chama atenção é Demócrito,  que afirma: a prova que a maior parte das artes nós aprendemos com os animais: a tecer e a coser com a aranha, a edificar com a andorinha, a fazer música com o rouxinol e o cisne, e a curar com certos bicho

A palavra final deixo com Byron,  e se constitui do epitáfio escrito para o túmulo do seu cachorro:

“Perto deste lugar,´
Repousam os restos de um ser
Que possuiu a beleza sem a vaidade,
A força sem a insolência,
A coragem sem a ferocidade,
E todas as virtudes dos homens sem os seus vícios.
Este elogio, que seria uma absurda lisonja
Se fosse inscrito sobre cinzas humanas,
É apenas um justo tributo à memoria de
BOATSWAIN, um cachorro,
Nascido na Terra Nova, em maio de 1803,
E morto em Newstead Abbey, a 18 de novembro de 1808
 
(Com este texto presto as minhas homenagens a escritora Nena Medeiros, defensora ferrenha  dos animais, que passa por um momento difícil com a doença de sua “mocinha”.  Só espero que, se estiver chegando a hora dela “dormir”, que acorde num outro mundo, tão feliz quanto Baleia de FAbiano  em Vidas Secas, imaginando que ainda lambe suas mãos , ao lado de   outros irmãozinhos se espojando com ela, rolando num pátio enorme, num quintal enorme...)
 
 
 
 
  

 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 18/11/2013
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