DOIS POMBOS E UM SOFRIMENTO

Final de tarde de mais um sábado melancólico. Ao lusco-fusco pessoas se postam diante de uma situação inusitada para todos os moradores da localidade onde fixo residência.

Ante o vozerio de transeuntes na rua, corro até a porte para ver o que se sucede e, para minha desagradável surpresa, percebo aves que se debatem dependuradas nos cabos de energia elétrica em frente à casa de meu vizinho, diante de olhos esbugalhados a testemunharem tristonha cena sem que nada se pudesse fazer.

Mãos infelizes aprisionaram as aves – dois pombos brancos – amarrando-os um ao outro e depois, liberados, saíram ao encontro de um vôo de quase morte quando se enroscaram por entre um grupo de cinco fios condutores de energia elétrica. A maldade humana ainda produz e reproduz esse tipo de postura equivocada, para não dizer, monstruosa mesmo, por parte de quem destrói a natureza. Tais atitudes beiram o sadismo de pessoas que não mais se percebem humanas.

Diante da fatídica cena corro para dentro de casa e me ponho a pensar o que fazer. Angustia-me a impossibilidade da resolução do problema que mexe com quase todos os moradores de minha pequenina rua. O tempo passa e o desfecho para o caso se aproxima de minha mente, nefasto.

Tento uma reação no intuito de que pudesse, resolutivo, ajudar a dar encaminhamento à tão triste questão posta ante os olhos de todos, que, assombradiços, falávamos e até vociferávamos aflitos, buscando uma solução plausível para o triste quadro.

Eis que minha filha, pequenina de pouco mais de sete anos de idade, adentra nossa casa em prantos. É seguida por mais duas amiguinhas de igual idade. Todas choram copiosamente diante de tão horrendo quadro e por não puderem fazer muita coisa para que se pudesse, ao menos, cortar o laço que prendia ambos os pombos. O que fazer? O que dizer? A quem recorrer diante de nefastos momentos? Uma inércia toma conta de quase todos nós, ali presentes, movidos pela angústia de nada ou pouco podermos fazer.

Uma luz brilha! Alguém faz contato com os plantonistas da empresa de energia elétrica e implora rápido a presença da equipe, no intuito de que seja dirimido tão desalentador fato.

E após alguns minutos de angustiante espera, mesmo porque olhávamos todos aflitos, as pequeninas aves que se debatiam dependuradas ainda nos fios condutores de energia, buscando salvação ante nossa aflição cada vez mais crescente por conta da demora da chegada da equipe solicitada.

O que mais atormentava a todos: os pombinhos se sacudiam intermitentes na ânsia do desvencilhamento. Todos imaginamos, em nossa ignorância, que a força da corrente elétrica pudesse matar ambas as aves, mesmo porque uma já estava quase sem esboçar reação.

Minha filha, dentro de casa, chora assustada seguida por suas coleguinhas que presenciam um fato que lhes surgia novo; fruto da maldade de alguém desalmado e insensível no trato aos animais que tão bem nos fazem.

Todo meu ser se agita e já não quero mais esperar. Corro dentro de casa movido pela sensação de incapacidade e indignação até mesmo pela demora da tão esperada equipe, esta detentora da efetiva resolução do caso.

Mantenho-me afastado da via pública. Ouço barulho de carro estacionando e conversas paralelas desconexas de curiosos, moradores de ruas adjacentes. Estou na cozinha quando entra em casa minha esposa a se lamentar pela situação vivenciada.

Um pouco mais e ouço palmas e aplausos efusivos. adianto-me até a porta e percebo um certo festejo e riso estampados em todas as faces alegres em rostos também anônimos. Percebo meus vizinhos contentíssimos pelo desfechar satisfatório do caso.

Os homens da manutenção, munidos de seus apetrechos de trabalho, conseguem retirar dos fios da rede os dois pombinhos que, para nossa alegria, além de vivos, esboçam uma esvoaçante saída rumo ao céu de liberdade.

Todos aplaudem e agradecem à equipe de plantão da companhia de energia que se mostrou sensibilizada, não somente ao apelo dos consumidores, mas, sobretudo aos pássaros em questão.

Minha filha continuou a chorar com suas duas amiguinhas... Desta feita de alegria pela soltura e salvamento dos pequeninos pombos.

José Luciano
Enviado por José Luciano em 18/11/2013
Código do texto: T4575265
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