Leitura de Bem-te-vi
Por Carlos Sena (Da coleção “Textículos”)
Em plena Avenida Agamenon Magalhães, no Recife, uma cena inusitada. Por entre o roncar dos motores e das buzinas dos caros, não obstante o estresse da lufa-lufa das pessoas, eis que fui surpreendido por uma cena poética: um bem-te-vi se debatendo no vidro do carona do meu carro querendo entrar por uma brechinha de três centímetros que faltavam para o vidro fechar completamente. Quando me dei por conta, o carro já em movimento, ele olhou pra mim e parecia me dizer: “Não se admire se um dia um “bem-te-vi” invadir a porta da tua casa te der um beijo e partir. Foi eu que mandei um beijo que é pra matar meu desejo, faz tempo eu não te vejo ai que saudade docê”...
O carro seguiu em direção a Paulista e eu fui matutando acerca daquela “poesia em movimento” – cena rara em plena selva de pedra – um pássaro batendo na janela do carro eu, infelizmente, não pude deixa-lo entrar, pois nem deu tempo. No trajeto, fiquei pensando no que um poeta disse noutro momento: “as melhores poesias do mundo jamais serão escritas”... Nem sabia eu que estava diante de um poema em movimento; diante de um bem-te-vi que bem-me-via; diante de um momento raro que eu não pude fotografar com câmera, mas que a mente jamais se esquecera... No trajeto (de novo), fiquei pensando: por que ele não entrou no carro para não ser alvo dos caçadores? Para não ser alvo dos predadores? Mas, no fundo, acho que ele teve medo que eu fosse igual a muitos que iria lhe prender numa gaiola. Engano, bem-te-vi: eu queria ter o prazer de te soltar em alto estilo nas matas que ainda restam nas redondezas de Paulista... Em todo caso, bem-que-te-vi para fazer essa louvação...
Por Carlos Sena (Da coleção “Textículos”)
Em plena Avenida Agamenon Magalhães, no Recife, uma cena inusitada. Por entre o roncar dos motores e das buzinas dos caros, não obstante o estresse da lufa-lufa das pessoas, eis que fui surpreendido por uma cena poética: um bem-te-vi se debatendo no vidro do carona do meu carro querendo entrar por uma brechinha de três centímetros que faltavam para o vidro fechar completamente. Quando me dei por conta, o carro já em movimento, ele olhou pra mim e parecia me dizer: “Não se admire se um dia um “bem-te-vi” invadir a porta da tua casa te der um beijo e partir. Foi eu que mandei um beijo que é pra matar meu desejo, faz tempo eu não te vejo ai que saudade docê”...
O carro seguiu em direção a Paulista e eu fui matutando acerca daquela “poesia em movimento” – cena rara em plena selva de pedra – um pássaro batendo na janela do carro eu, infelizmente, não pude deixa-lo entrar, pois nem deu tempo. No trajeto, fiquei pensando no que um poeta disse noutro momento: “as melhores poesias do mundo jamais serão escritas”... Nem sabia eu que estava diante de um poema em movimento; diante de um bem-te-vi que bem-me-via; diante de um momento raro que eu não pude fotografar com câmera, mas que a mente jamais se esquecera... No trajeto (de novo), fiquei pensando: por que ele não entrou no carro para não ser alvo dos caçadores? Para não ser alvo dos predadores? Mas, no fundo, acho que ele teve medo que eu fosse igual a muitos que iria lhe prender numa gaiola. Engano, bem-te-vi: eu queria ter o prazer de te soltar em alto estilo nas matas que ainda restam nas redondezas de Paulista... Em todo caso, bem-que-te-vi para fazer essa louvação...