NEM DEUS AGUENTA!

Domingo à tarde, com nuvens negras no horizonte ameaçando uma bela carga de água, não tive alternativa e tratei de dar uma zapeada nos canais da TV aberta. Como já imaginava, não deu outra coisa. A pasmaceira de sempre, ao vivo e a cores, insistindo no festival de sandices embrulhado no mais insistente e inconveniente turbilhão de propagandas, com mensagens impositivas, na tentativa de lograr mais um bom punhado de otários para rechear o bolso de empresários e banqueiros. E o IBOPE cuidando de anotar tudo direitinho para exibir em suas estatísticas.

Meti o dedão no controle e fui pulando de canal em canal. Dos que estavam disponíveis, quase a metade apresentava programação religiosa. Católicos, evangélicos de várias tendências, seichonoiesistas e até gente com avental e tudo, tratando de assuntos de uma “Grande Loja Maçônica", aberta até mesmo à filiação feminina!

Bem! Nessa programação, imperavam as pregações. Gente culta e inculta, assomando os púlpitos, ditava normas de conduta, medidas para progredir na vida, perspectiva de milagres, exorcismos e até mesmo, promessas explícitas de salvação paradisíaca ou de danação eterna, com direito às tridentadas do capeta e tudo mais do gênero.

Um dos principais tópicos de todo esse discurso de fé, está atrelado a uma postura dos pregadores que considera que, senão todos os fiéis, pelo menos a maioria deles vai “mal de vida”, envolvida em situações de desespero, de miséria, de inconformismo, de depressão, etc... Para esses representantes clericais, ninguém é feliz ou tem sucesso se não estiver enfileirado nas hostes de fiéis contribuintes.

Para o alívio desses males, distribuem benesses a quem se dispuser a “cooperar”, de alguma forma, habilitando-se a queimar tais picuinhas na “Fogueira Santa”, nas “Areias de Israel”, nas “Águas do Jordão”, nas “unções”, nas velas abençoadas e outros tantos apelos emanados do púlpito sacerdotal.

Para azeitar toda essa carga motivadora, nos cultos, a pregação toma o seu lado musical. É aí que a coisa começa a entrar em descompasso. Os coros entram a pleno numa saraivada de notas e acordes desafinados ao extremo, com gente chorando, soluçando e imaginando estar “louvando o Senhor”, atravessando, desafinando e fora do compasso.

Algumas denominações descobriram o veio lucrativo da música “gospel” e investem pesado na produção, edição e propaganda dos seus angelicais artistas... Como religioso não tem nada de bobo, até mesmo fazem pipocar os “bits” do “funk-gospel”, das duplas sertanejas de louvação e, até mesmo o pagode, em que o próprio Jesus está envolto nas rimas das letras...

Foi nesse momento que tive pena de Deus e, para tentar imaginar como Ele estaria se sentindo, imaginei, com misericórdia, estar no Seu lugar. Confesso que nem consegui realizar essa proposta mental, já que penso ser um despropósito humano infligir ao Criador, por toda a eternidade, esse tipo de manifestação canora atrelada a incessantes pedidos de tudo o que o ser humano deseja e quer, mesmo nunca podendo conseguir...

Entra ano, sai ano e, a todos os minutos e segundos estão emanando da crosta terrestre lancinantes pedidos de perdão pelos pecados, por justiça, liberdade, bens materiais, sucesso no amor, superação, etc... etc...

O homem coloca “nas mãos de Deus” toda a responsabilidade por solucionar os problemas resultantes dos seus próprios insucessos. Ah! “ “Se Deus quiser” obterei isso, conquistarei aquilo, livrar-me-ei daquiloutro ou lograrei essa ou aquela vitória, eximindo-me das malsinadas derrotas...

Coloquemo-nos, todos, no lugar Dele e vejamos como deve estar se sentindo, lá nas alturas, bombardeado por todo o tipo de falação que sobe a partir do cimo das cúpulas, dos minaretes, dos ashrams, das sinagogas, dos terreiros, das lojas, dos pronaus e de toda a ordem de templos erigidos pela divergência fundamentalista que reina sobre a terra.

Juntemos todo esse campo energético produzido em direção à Mente Criadora que o homem resolveu apelidar, com interminável miríade de apelidos e vejamos quem pode enunciar, com certeza, todos os nomes que Lhe atribuíram? Imaginemos, agora, tomarmos o Seu lugar por alguns instantes e ver o suplício provocado por todo esse barulho fundamentalista!

Ah! Sinceramente! Deus não merece isso! Falamos em experimentar esse sufoco, só por alguns minutos. Porém, estamos nos referindo ao sacrifício que impomos a Ele “pela eternidade afora”! Alguém tem a mínima noção disso? Sabem lá o que é colocar Deus para ouvir pagode?

Nem o sacrifício de Tântalo chega perto dessa malvadeza. Ninguém imagina o trabalhão que Deus tem para cuidar de todos os universos, desde os conhecidos aos desconhecidos e os ainda por construir. Agora! Ficar produzindo toda essa barulhada cósmica obrigando-O a ficar escutando lamúrias de gente sem desconfiômetro? E, ainda por cima, de gente dessa poeirinha insignificante que quase nem se vê nesse pequeno Universo Local?

Assim já é demais! Nem Deus aguenta!

Anunnak – 17-11-2013 – 19:19Hs

Amelius
Enviado por Amelius em 17/11/2013
Reeditado em 17/11/2013
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