Sonho

Era tarde. Na vida real. No sonho não passava das 8 e meia. Um sono quase angelical, carregara consigo um sonho. Um sonho de um futuro não tão distante. Um homem moreno, estatura mediana, cabeça coberta por um chapéu, sentado embaixo de uma árvore contemplando a vista. Não tinha mais que 30 anos de idade, parecia calmo, tranquilo. Ao lado da pedra em que ele estava muito bem acomodado, havia livros. De auto-ajuda a artigos científicos. Era uma pessoa eclética. Observadora. Observava com olhos atentos a fazendo que tinha ele por propriedade... um belo de um cavalo de um lado –sua paixão- um mangalarga machador cujo pelo reluzia a luz do sol. Correndo um frente a casa um coelho gigante –literalmente- com medida aproximada em torno de 90 cm de comprimento, carregava no dorso uma pequena criança que o tratava da maneira que queria. Ele não interferia. Apenas observava. Ao longe, se via plantações, cultivo de hortaliças da mais variadas. Era sua atividade desestressante. Por cima das olerícolas, via-se uma fina nuvem de água, expelida pelos aspersores responsável por além de irrigar, formar arco-íris pequenos, mas lindos. De fronte a árvore onde estava sentado havia a casa. Um belo jardim em frente, com as flores que mais gostava de cultivar. Paixão desde a adolescência, o que mais se viam eram mini-roseiras. Pequenas flores delicadas que sempre gostou de cultivar e agora tem um espaço guardado além das meras memórias de quando adolescente. Logo acima de sua cabeça algumas orquídeas embelezara ainda mais a árvore que era responsável pela sombra matinal diária. Todas cultivadas por ele mesmo, fazia questão de fazer as coisas que mais gostava. Não dava ordens, ia e ele mesmo fazia. Por trás da casa uma lagoa imensa com peixes das mais variadas linhagens de ciclídeos. Tanto que percebi um albino pulando fora da água, celebrando a vida. Na janela da casa simples que morava, estava sua esposa com uma criança no colo. Devia ter mais ou menos 4 meses de idade. Enquanto isso ele continuava lá, sentado, tranquilo, respirando o puro ar das manhãs calmas daquele lugar. O vento soprava-lhe ao rosto, trazendo consigo a sensação de liberdade. Ele fechava os olhos. Inalava. O suspiro depois vinha acompanhado de um sorriso bobo. O mesmo desde pequeno. Foi quando fechou um livro, colocou em cima da pilha ao lado e olhando pra criança que brincava com o coelho disse:

-tenha cuidado, nem puxe suas orelhas nem o acaricie muito. Esse pelo pode lhe prejudicar.

Era um pai atencioso, cuidadoso, sempre atento aos movimentos dos filhos Principalmente quando eles estavam em contato com os animais, Sabia o risco que seus pimpolhos podiam correr. O tempo foi passando e pouco se foi percebendo. Passava das nove. ele se levanta. Vai olhar a irrigação, desliga a motobomba que espirra a água à plantação, dá um bom dia ao cavalo, acaricia sua crina, encosta sua testa na dele... agaixa-se, acompanha o sorriso do filho em cima do coelho, acaricia sua cabeça, e responde a perguntas do pequeno:

-papai, por que o olho dele é vermelho? Hábitos de observador e curiosos herdados do pai.

-porque é uma marca da família dele. É como se fosse um sinal. Responde o pai da maneira mais simples. Tinha mania de dar aulas.

O menino largou o coelho. Acompanhou o pai. Os dois de mãos dadas foram olhas as flores, agaixaram-se diante delas e observavam. Ele sempre pensando em quando faria a próxima poda, como poderia melhorar a estética, qual o próximo adubo a ser utilizado... coisas técnicas que aprendeu ao longo do tempo através de estudos e pesquisas. A criança, sempre curiosa pergunta:

-por que essa tem mais flor que essa outra? Sempre com perguntas interessantes indaga o pimpolho.

-porque cada uma é de uma família. É como os coelhos, alguns tem mais pelos que outros, mas no final são todos coelhos. Sempre com o seu jeito comparativo de ensinar, responde.

-huuummm... entendi. Conclui

-o senhor já foi olhar os peixes?

-Ainda não, responde ao filho.

-você quer ir comigo colocar ração pra eles? Pergunta ele com um tom desafiante. Sempre alertou o filho a respeito dos perigos das águas, mas sempre deixou claro os cuidados necessários.

-quero, mas só se o senhor segurar bem forte a minha mão. Responde ele com tom decisivo

-vou fazer melhor, vou colocar vc nos braços, assim você observa os peixes do alto!

Deram a volta num dos lados da casa e seguiram. Entraram num quarto que ficava nos fundos, pegaram a ração e se dirigiram em direção da lagoa. Ele segurava o menino e o menino segurava a lata com a ração. Chegam a margem e o menino olha para a lagoa quase hipnotizado pelas ondinhas que formara. O pai, com a mão firme na do garoto, olha ao longe, franze a testa e admira a imensidão a qual está diante dele. Quando de repente os dois se despertam com um pulo de peixe perto deles. Era um apaiari, peixe carnívoro da região. Os dois se olham, conversam, comentam a respeito do acontecido. Sentam-se então, com a ponta dos pés na água. O garoto fica apreensivo, o fato de os peixes serem carnívoros, projetava na sua mente cenas de piranhas devorando ossos! Ele abre a lata e joga um punhado de ração na água. O menino faz o mesmo. Segundos se passam até que veem o primeiro bote, depois outro, depois outro... assim passam-se mais alguns minutos. Os dois alimentando peixes, e o pai realizando um sonho.

Já eram quase dez da manhã e a mesa –claro- já estava pronta, os dois repetem o mesmo trajeto, como que um vídeo voltando... entram em casa, lavam as mãos, tomam café. A outra criança está no berço. Dormiu de novo, sua esposa conversa, trocam brincadeiras, gargalhadas, vida.

Eu dormindo, ressono como a criança que dorme tranquila, que sonha com algo que só ela sabe, algo que pode ser seu futuro. Dormem ambos, um na vida real outro no sonho. E o sonho do que dorme na cama, era realizar o sonho que acabara de ter.

Foi como se eu visse tudo o que sonhei resumido em alguns minutos de sonho que mostrou parte da manhã da minha tão sonhada calma. Mas infelizmente, não pude ver o que se passou, até eu está sentado embaixo de uma árvore contemplando a vista do que conseguira com meu próprio suor. Família, animais, flores, vento... foi isso o que sonhei. É com isso que sonho acordado, todos os dias quando acordo. Enfim, já vi parte de Um homem moreno de estatura mediana, cabeça coberta por um chapéu, sentado embaixo de uma árvore contemplando a vista que Não tinha mais que 30 anos de idade, parecia calmo, tranquilo. Agora tenho que acordar, por enquanto sou jovem, sou moço, vou viver certas coisas não descritas no sonho, mas sei que daqui a algum tempo, não sonharei mais com o mesmo homem moreno de estatura mediana, cabeça coberta por um chapéu, sentado embaixo de uma árvore contemplando a vista. Serei esse homem.

Lucas Mota
Enviado por Lucas Mota em 17/11/2013
Reeditado em 25/03/2014
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