O AMOR NÃO MORRE, APENAS ADORMECE

Essa semana eu recebi o telefonema de um amigo, me convidando para uma conversa. Como fazia certo tempo que não o via, alegrou-me o convite que serviria para colocar os assuntos em dia e saber o que estava se passando na sua vida.

Encontramos-nos na praça ao lado da estátua de Dorian Jorge Freire e depois dos costumeiros abraços e apertos de mãos; as costumeiras perguntas de como vai à família; você não mudou nada, etc e tal, no sentamos para bater um papo daqueles que a hora passa e ninguém percebe.

Notei um pouco de peso no semblante do meu companheiro de banco, porém esperei que o mesmo relaxasse e começasse a me dizer o que estava acontecendo, não querendo antecipar ou até mesmo adivinhar que algo não ia bem.

“- Professor, o amor morre?”

Pronto! Estava ali o semblante pesado; a cara de tristeza; o convite para o encontro; o início do desabafo.

“- Não”, respondi.

“-É, eu li uma crônica sua discorrendo sobre o amor eterno e, por isso, eu lhe fiz a pergunta”, completou.

Agradeci pela boa vontade de abrir a página do jornal nos meus escritos e aproveitei para devolver a pergunta: E você, o que acha? Acha que o amor morre?

“- Não, não acho. Mas o amor é complicado, não é?”

Eu disse que o amor não é complicado, pelo contrário, é simples e não necessita de muita coisa para se chegar a sua pureza, basta apenas abrir o coração e fazer da sinceridade a porta principal de contato entre as almas.

E continuei:

“- Nós, na verdade, é que complicamos a simplicidade do amor; complicamos quando atrelamos o ciúme ao amor, manchando a clareza das palavras ditas em juras, passando a desconfiar de cada passo da pessoa amada; complicamos quando exigimos mais do que podemos dar em troca e não aceitamos repartir o pouco que temos para dar: o amor não é posse, é divisão de prazeres e cumplicidade de sua chama; complicamos quando nos tornamos impacientes e não suportamos a separação da distância, envenenando nossos sentimentos com pensamentos danosos: amar é confiar e ter na pessoa amada o porto seguro do seu coração; complicamos quando proferimos em palavras, a raiva, a ira e a imprudência dos defeitos da matéria: amar é antes de tudo aceitar conviver com os obstáculos e as provações do corpo e da alma. E complicamos quando não entendemos a maturidade do amor, não aceitando o doar, e sim, querendo apenas a doação: amar é saber transformar em virtudes o que antes eram os defeitos”.

“- Então, se o amor está complicado pelas coisas que nós fazemos a ele, o que fazer para voltar a torná-lo puro?” – Perguntou com um misto de ansiedade e apreensão.

“- Passar a cuidar melhor da sua insegurança”, disse.

“- Transforme suas incertezas em ações positivas; seus medos em uma luta constante da qualidade sobre os defeitos; filtre as intempéries e deixe passar o límpido do afeto, do afago, do carinho; pratique a cordialidade das palavras amáveis, enaltecendo sempre o desejo, a paixão, o prazer; evite as intrigas e os conflitos internos da mente embaçada da dúvida, priorizando o que de melhor existe em cada ser: a capacidade de mudar o seu próprio jeito de amar”.

Sabia que não era o suficiente como resposta para o meu amigo, pois diante de tudo que havia dito o balançar de sua cabeça era sempre para o lado negativo, como a me dizer que o dano causado ao amor – embora ele não morresse – não era assim tão fácil de ser tratado e muito menos curado.

Preparei-me para a pergunta final que veio logo em seguida:

“-E, se diante de tudo, não houver saída para o amor?” – Perguntou num sussurro quase que inaudível.

Olhei para ele, refleti bem sobre o que ia dizer, busquei o máximo ser fiel aos meus princípios e observei, especialmente, o momento delicado que teria que aconselhar.

Disse:

“- Nesse caso deixe-o adormecer um pouco, sem machucá-lo. Guarde-o dentro do seu coração e conserve-o imaculado. Quando estiver pronto, maduro e certo de que ele não poderá ser mais contaminado pela discórdia, mau pensamento, fragilidades do espírito, deixe-o florir em todo o seu ser”.

Lembre-se:

“- O amor não morre, ele é eterno, contudo, nós podemos torná-lo banal quando deixamos de acreditar na sua essência”.

As horas passaram e tivemos que nos despedir, certo de que a amizade ainda é a melhor forma de se aconselhar o amor.




 
Obs. Imagem da internet




Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 20/04/2007
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T457454
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