A CURA

Hoje parecia que iria desmoronar. Parecia que a minha matéria estava em decomposição. Por quê?!! Sinceramente não sei dizer. Havia dentro em mim uma espécie de buraco. Acho mesmo que era um abismo. Acho que todos nós temos momentos abissais. Momentos em que nos encontramos com o nosso outro lado escuro e profundo. Aquele lado sombrio, gélido e angustiante.

Assim encontrava-me hoje. Simplesmente assim. Sem motivo, sem explicação, sem causa, no entanto com consequências. Consequências internas e externas. Meu espírito estava completamente abatido, meu físico não reagia aos estímulos da alegria. Só conseguia sentir raiva e mau humor. Tudo e todos, até mesmo a quem amo, incomodavam-me. Até a minha própria existência incomodava-me.

O que me dá prazer, o que sempre costumo apreciar, tudo, tudo estava insulso.

Tentei refugiar-me na leitura. Livro técnico, livros de ficção, livra de romance, livro de contos, livro de poesia. Tudo pela metade. Tudo inacabado. A minha mente estava completamente largada ao ermo. E assim ela queria continuar.

Orar não conseguia. Não conseguia elevar uma prece a Deus em busca de socorro. Era como se minha alma estivesse ressequida. Morta. Tive vontade de teletransportar-me para um lugar qualquer que não fosse aqui neste mundo.

As horas foram passando e a ansiedade fora tomando conta de mim. Resolvi deitar um pouco. Relaxar. Dormir. Relaxei. Dormi. Um instantinho só, mas foi bom. Acho que Deus colocou-me em seu colo e me fez ninar. Acordei e já estava próximo ao ocaso do sol.

Dirigi-me á sala de estar. Chamei minha esposa e filhos para sentarem-se juntamente comigo ao sofá. Eu e o meu filho mais velho sentamos em um sofá e minha esposa e meu filho mais novo sentaram-se em outro. Minha filha não se encontrava em casa, ela estava para casa da tia, minha irmã.

Foi nesse momento, logo após uma prece que fizemos, que resolvi abrir meu coração e pedir desculpas pelo meu mau humor. Pedi que tivessem paciência comigo, pois não sabia por que estava sentido-me assim, mas uma coisa eu tinha certeza: “não é nada com vocês, juro”, disse-lhes.

Disse o quanto eu os amava e queria sempre vê-los felizes. Mas que a minha vontade era de tomar um remédio para dormir, dormir, dormir por uns trinta dias.

Nessa hora meu caçula não se aguentando desfez-se em choro, levantou-se, puxou-me pela mão e abraçou-me como nunca o havia feito e disse: Pai! Eu te amo muito... não gosto de te ver triste assim... tenho vontade às vezes de te falar que te amo, de te abraçar mais eu não consigo, pai...

Foram alguns minutos de choro e abraço recíprocos. Ficamos coladinhos. Pude sentir o pulsar do seu coraçãozinho de filho bem junto ao meu coração de pai. Pude sentir o seu calor e afeto por mim. A minha esposa precisou ser consolada pelo nosso outro filho, pois ela estava super emocionada.

Senti naquele instante a cura. As palavras e declarações de amor que recebi de meus filhos e esposa foram para mim a resposta de Deus, confirmando-me que o meu papel de pai fora bem desempenhado.

Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 16/11/2013
Reeditado em 21/11/2013
Código do texto: T4572591
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