Máscara e mascarados
         
          Quando criança, caro leitor, não adianta negar, a máscara nos fazia medo como cara aterradora. Mesmo se considerando fazer medo uma educação inadequada, havia quem, sem máscara, fizesse mogangas, trejeitos na cara para se parecer amedrontador, dizendo: “o bicho vai pegar”...  E se colocasse máscara no rosto, pior do que a careta, escondíamo-nos por trás das portas abertas ou fechadas. Não é que, sensatamente, o medo não seja às crianças e aos adultos um sentimento útil.  Na verdade, ele nos previne, avisa, prudencia e nos salva de certos perigos e daqueles que permanentemente “têm raiva do gênero humano”...  Pela observação, também o medo nos ensina o conhecimento  definido como “bom senso”, o que falta a tanta gente no pensar, no dizer , no escrever e no agir... Contudo, desses mal-assombros não temos mais medo, já descobrimos que as máscaras não mentem, apenas os mascarados...

          Na antiga Grécia, a máscara servia para identificar o personagem distante da plateia, dando-lhe características que o personalizavam no Teatro de Arena. Tal máscara se chamava “persona” que, em latim, significa pessoa, do que se deriva “personalidade”, o que faz o anônimo indivíduo da sociedade devir tal pessoa no grupo. Assim, um conhecido, que usa duas máscaras, sempre é diagnosticado como “indivíduo de dupla personalidade”.  A máscara do carnaval, ao contrário da “persona”, não identifica, despersonaliza, faz do portador um desconhecido, escondendo-o no anonimato, para, durante o período momesco, como nos bailes de Veneza, usufruir de maior “liberdade de brincar”, sem o reconhecimento da censura social. O Carnaval de Veneza tornou-se famoso pelo uso desse disfarce, fazendo daquele lugar a “cidade das máscaras”. Aqui, na nossa terra, também se usa máscara durante o carnaval e, fora dele, nos crimes de roubo e assassinato ou quando um indivíduo sem caráter usa duas “personas”, conforme sua conveniência, como nada de anormal estivesse acontecendo.  Mas, fora disso, jamais se viu alguém andando pela rua disfarçado, em horas de trabalho ou de lazer.

          Porém, temos lido nos jornais que, nas manifestações de rua, poucos “indivíduos”, que deveriam se identificar no sentido ordeiro do seu protesto, escondem-se por trás da máscara para obter “liberdade” de tornar desordeira a manifestação: praticar quebra-quebra, tocar fogo nos carros, assaltar bancos e até destruir o patrimônio histórico, prejudicando os que, civil e dignamente, protestam. Sim, falta “bom senso” naqueles que acham que esses têm direito de usar máscara...

 

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