'Yeah! There´s surely a jungle out there
and the wildest of all animals is man'. - Calada.Eu
and the wildest of all animals is man'. - Calada.Eu
Quando Penso Que Já Li De Tudo ...
O meu filho chegou em casa com uma grande caixa marrom naquele sábado à tarde. Havia dado a minha última aula às 17:30 e já me encontrava livre pra desfrutar o meu fim de semana.
A curiosidade bateu forte ao ver aquela caixa recheada de coisas pelas quais garimpei mas, o que mais chamou a minha atenção foram os livros. A caixa marrom abrigava: o clássico, 1984 de George Orwell, um enorme dicionário de medicina que pesa bem uns dois kilos, o Código Da Vinci do Dan Brown e um livro de capa preta que realmente me chamou a atenção: O Doce Veneno Do Escorpião. Sim. O livro da Bruna Surfistinha que deu origem ao filme com a Debora Secco.
Peguei o livro e comentei, "O livro parece que nem foi lido." O meu filho me contou que seu amigo Igor tinha lido apenas a primeira página e preferiu não continuar. O Igor teria dito que a primeira página o 'desanimou' pela baixaria toda impressa nela. O Vinicius conta que o amigo simplesmente jogou o livro dentro da caixa junto com as outras coisas que resolveu 'doar' antes de partir para Austrália no mês seguinte. Ele dá risada e diz, "O Igor pensou que 'eu' queria ler mas falei que você talvez gostasse de dar uma olhadela. Perguntou se eu não tinha vergonha em trazer o livro pra casa. Respondi que a minha mãe jamais compraria um livro assim mas, com certeza teria curiosidade em dar uma espiadinha." É, meu filho me conhece muito bem. Cá entre nós, creio que ele me conhece melhor que as minhas meninas.
A noite cai e eu na minha cama com aquele livro. Nunca imaginei uma coisa dessas! As primeiras sete páginas são revelações e detalhes que a autora relata sobre os mais variados programas com seus clientes. A saga da Bruna começa mesmo na página 14 onde a Raquel Pacheco (nome verdadeiro da Bruna) se revela e conta aos poucos sobre a vida boa, confortável e tranquila que levava. Ela fala sobre os colégios particulares onde estudou e como lutava contra seus instintos em aterrorizar os seus pais adotivos e o certo vazio que a pertubava.
Acho muito interessante ler biografias, por que a gente acaba descobrindo que não somos os únicos com esqueletos no armário, nem que os nossos sonhos e vontades são tão exageradamente absurdos. Acabamos entendendo que é aceitável ser assim ou assado, gostar disso mais do que aquilo e agir de tal jeito ou outro. Muito bom mesmo é aprender com os erros dos outros, saber que não existem 'os tais segredos nem regras' para sobreviver nesse mundo de hoje e que nem nunca existiu. Na verdade, o que existe são princípios e motivos. Não mentiras e tabus que circulam por aí e que nos deixam confuso e perdido, fazendo a gente pensar que que não pertencemos a esta ou aquela praia ou que estamos ilhados ou abandonados. É mentiroso quem falar que sabe tudo da vida. Estou pra conhecer alguém doutorado na vida.
O livro da Bruna trás um certo 'bonus' para os leigos no assunto 'sexo' ou melhor, sexo banal, na minha opinião. As últimas trinta e seis páginas são da cor preta e receberam o título "As histórias proíbidas da Bruna Surfistinha". Nessas últimas páginas a Raquel revela e explica muita coisa que rola entre quatro paredes que faria da Linda Lovelace em 'Deep Throat' uma 'clueless' (sem noção).
E qual não foi a minha surpresa ao descobrir que a chuva negra que a Bruna se refere tinha nada a ver com a do filme do Michael Douglas e Andy Garcia, 'Black Rain'. E que a chuva também vinha na cor dourada. Como pode?
Gente, não sou nenhuma garotinha que usa meias 3/4 e sapato boneca, nem tão velha assim e cheia de pudores mas, que eu fiquei arrepiada, horrorizada ... Ah! Isso fiquei, SIM!
Nos meus 52 anos nunca vi chuva negra, nem a dourada. Não ao vivo, nem a cores. Nem quero ver. Nem sabia da existência do tal fist fucking! Sim! Fist (punho) fucking! Como sou curiosa acabei fazendo uma busca na internet e achei o que não queria ver! Absurdos! Cada coisa fora do normal. Porque sou curiosa meu Deus do céu!? Antes tivesse ficado na minha santa ignorância sem as imagens que agora assombram a minha mente.
Creio que além de semi-nova também sou semi-virgem por que tem muita coisa que nunca fiz e jamais sonharia em fazer. Nem se me pagassem!
Agora, o que me preocupa é que o mundo moderno foi pintado na tela da minha mente e fico ponderando ... Será que as meninas sabem sobre essas formas mais variadas de 'sexo', isto é, se podemos chamar esse tipo de coisa de sexo?
Na minha adolescência era muito comum a mãe da gente falar sobre a menarca mas, falar sobre sexo? O jeito era ouvir as 'palestras' no banheiro feminino da escola onde as meninas mais velhas e 'experientes' contavam suas estórias sobre a primeira vez. Muitas vezes eram apenas fantasias e mentiras que apenas ganhavam mais pano pra manga quando passava a circular pelo colégio. Naquela época não tinha 'workshop' no assunto mas, as revistas Capricho e POP traziam matérias sobre relacionamento, namoro e sexo. Não traziam todos os detalhes mas, mesmo assim, era melhor ler algo assim do que ficar que nem cego no meio de um belo tiroteio do Tex Willer ou do Hustin.
As minhas meninas viram o livro no meu criado mudo e fizeram a maior algazarra.
- Veja só Bia ... A mãe tá lendo 'O Doce Veneno do Escorpião' da Bruna Surfistinha!
- Nossa mãe! Não acha que é moderninho demais pra você?
Enquanto as minhas meninas riam, eu apenas fitava ambas com o meu olhar de preocupação e disse:
- Querem ler?
A Luíza foi a primeira a responder:
- Claro que quero! Assim que você terminar, é a minha vez! Minha! Viu Bia?
- Tá bom Lú. Sua vez e depois eu!
Com um certo esforço consegui colocar um sorriso nos meus lábios e disse:
- Sabe, este livro deveria ser lido por todas as meninas. É tipo de um manual que deixa você por dentro de todo tipo de sexo que rola por aí. Sexo sujo e banal. Do tipo que nem animal faz.
As meninas olharam para mim meio assim sem entender e a minha filha mais velha disse:
- Deixa disso mãe. Sexo faz bem. Não é sujo. É gostoso experimentar. Lendo esse livro só agora você tá tendo noção que tem muitas outras formas de fazer sexo.
Olhei bem pra cara dela e disse:
- Olha Dona Luíza, não sei tudo mas, sei um montão de coisa, li muito, conversei com amigas doutoradas em sexo, comprei um kama sutra ... posso lhe garantir que nunca me apavorei mas, isso ... me deixou apavoradíssima! Quando você ler, a gente conversa, ok?
- OK mãe. A gente conversa.
Terminei o livro rapidinho e logo repassei pra minha filha. A Luíza não é lá fã de ler. Se tiver o livro e o filme, ela fica com o segundo sem piscar. Me surpreendi quando a Luíza apareceu no domingo com o livro pra entregar à Bia.
- Não a-cre-di-tô! Já terminou?
- Sim ... E que livro, hein mãe! Nem eu sabia que tudo aquilo existia!
- Que bom! Tô aliviada!
- Andei comentando com a Bia no in box do Face Book e só pelos meus comentários eu tenho certeza que ela também estava alienada sobre esse sexo sordido.
- Ufa! Agora tô bem mais tranquila e 100% aliviada!
- É mãe mas, e a Helô? Será que ela vai ter sorte em encontrar um garoto que não tem taras e vontades em fazer chuva negra? Ou encantá-la com papo furado da chuva dourada? E o tal fist fucking? Monsenhor Gercino!!! Já tô preocupada e ela tem só quatro!!!
- Pois é Lú. Depois que a Helô ler muito Ziraldo, Hans Christian Andersen, Disney, Rowling ... e espero que ela leia muito mesmo mas, quando a hora chegar, a gente desenterra o 'O Doce Veneno Do Escorpião' da Bruna Surfistinha e dá pra ela ler.
Afinal, pra sobreviver num mundo assim não basta aquele canivete do MacGyver. É preciso um bom manual de sobrevivência, né?