Quando a alma adoece( Síndrome do pânico).
A existência me proporcionou pai, mãe, irmãos e muitos amigos, mas, um isolamento me acompanhou quase a minha vida inteira. Apesar de ter dois filhos maravilhosos ao meu lado e uma profissão que toma bastante tempo e estudo, sinto-me só vez ou outra. Talvez seja por que fui criada com vários irmãos (sete), primos e amigas. Enfim, criei-me numa casa cheia de festas, encontros e risadas. Sei lá o que aconteceu, foi me afastando aos poucos das pessoas, inicialmente, porque me sentia sempre muito mal em festas ou multidões. Jamais conseguia sair à noite sozinha, muito menos viajar. Aos poucos, fui desconfiando que houvesse alguma coisa errada comigo. Junto com as desculpas continuas para não sair, ir a festas, jantares. Eram desculpas de todos os tipos, cores e tamanhos: os filhos estão doentes, não estou me sentindo bem ( às vezes era verdade). As raríssimas vezes, em que eu saia para algum evento profissional ou não, saia mais cedo, inventava desculpas para fugir.
Eram eternidades de tantos “não posso” que as pessoas começaram a desistir de mim. E eu fui renunciando a tantas coisas que nem consigo enumerar, entre elas: escrever. Junto com as minhas negativas para sair, possuía dores de estômagos, normalmente, imaginárias para sair correndo dos lugares. Também tinha taquicardia, suores nas mãos e uma sensação de esgotamento iminente. Parecia que eu ia morrer se saísse sozinha, principalmente à noite. Comecei a possuir medo do medo de sentir esses sintomas, tinha uma insônia pavorosa a cada situação nova que precisava viver. Foram muitas idas ao médico e emergências e nunca tinha nada fisicamente. Sei lá, as pessoas acreditavam que eu era difícil, arredia, não gostava de sair, mas por dentro, eu fervilhava, queria vida, sol e muitas noitadas divertidas. Entretanto, um temor inexplicável, insondável que me abatia, principalmente, à noite. Havia uma insônia dantesca que destroçava as noites e destruía os dias, acabava, lentamente, com a minha vida profissional e pessoal.
Não sabia que tinha a doença do pânico. Nem possuía ideia do que seria isso, acreditava como os outros, que eu era uma tremenda fresca. Acho que aos poucos a doença foi tomando conta de mim, ao ponto de não conseguir mais sair de casa sem sentir dores de estômago, tonturas entre outras sensações. O que não sabia sobre a doença do pânico que ela era uma enfermidade como outra qualquer, tratável com medicações e terapia. Aos poucos, fui pesquisando, escutando as pessoas quando, finalmente, consegui falar para o meu médico como eu me sentia, ele me deu o diagnóstico e me encaminhou ao tratamento. Claro, tudo isso aconteceu, quanto eu estava no auge da doença, já não conseguia sair sozinha de casa e a minha vida profissional se encontrava, praticamente, destruída. Desisti de escrever, eu me sentia amedrontada o tempo todo, não conseguia nem sentar ao lado do motorista no carro durante as viagens. Nem ia ao centro da minha cidade, evitava a vida do lado de fora da minha casa e sofria muito. Não queria conhecer pessoas novas e muito menos ficar em meio a multidões.
Passaram-se dois anos desde que comecei o tratamento e aprendi a lidar com doença. Ela não possui cura, mas aprendemos a lidar com os seus sintomas, não só com medicações, mas também conhecendo os sinais e reações que o organismo emite ao sofrer um ataque de pânico. Existem muitos exercícios ótimos de respiração para evitar um ataque. Também aprender as características de um ataque de pânico é fundamental para administrarmos o receio do próximo embate. Aprendi com os meus terapeutas que não podemos nos afastar da sociedade para nos curarmos, pois é nela que nos restabelecemos para vida. Neste ano de 2013, estou retomando a minha vida, voltei a escrever, participei de duas viagens em grupo para divulgar um livro, também participei de duas tardes de autógrafos. Fui num show de rock, á noite, ( Os Titãs) que possuía uma grande multidão e nem um momento me senti mal. Para mim, tudo isso é muito bom, parece que voltei a adolescência, sinto uma sensação de liberdade e leveza. Sei que ainda tenho um longo caminho a seguir. Mas, estou começando a sair de dentro de mim. Dizem por ai, que a doença do pânico é uma doença da alma, talvez. Talvez seja...
Novembro de 2013