Sumiço de Luiz Antônio
Depois de tudo esclarecido a gente até acha graça. Mas na hora ninguém podia imaginar por que Luiz Antônio havia saído de casa pouco antes das sete horas de manhã, como sempre fazia, caminhando na direção da fábrica de móveis em que trabalhava, mas sem chegar ao seu destino. Pelo menos foi o que o pessoal da fábrica disse. Luiz Antônio nunca faltava e por isso acharam estranho. A cidade era pequena, o sinal de celular era precário, mas a notícia logo correu: Luiz Antônio não havia aparecido para trabalhar.
Ora, a família naturalmente se alarmou. Mas ninguém deixou que o pai de Luiz Antônio, já bem velhinho, soubesse do sumiço – melhor evitar as emoções. Os amigos começaram a palpitar: “Essa história de tentar emagrecer... sei não... Vai ver confundiu os miolos dele”. E, de fato, Luiz Antônio, um reconhecido gordo, havia perdido muitos quilos recentemente. Alguém afirmou que havia visto Luiz Antônio caminhando próximo à margem do rio Negro. Disso a surgir o boato de que haviam encontrado um corpo no rio Negro foi um pulo. Mas nada se confirmava e ninguém conseguia entrar em contato com Luiz Antônio.
Que estava muito bem, obrigado. Pouco tempo depois de ter saído de casa, ele havia sido parado por uma viatura. Perguntaram se estava com os documentos. Luiz Antônio estava. Então o levaram para que fosse testemunha do cumprimento de um mandado de prisão contra um empresário sonegador de impostos. E lá se foi Luiz Antônio, sem poder avisar o pessoal da fábrica.
Mas isso a gente só ficou sabendo depois. Até então continuávamos nossa angustiada busca pelo paradeiro de Luiz Antônio. Havia quem chorasse copiosamente e lamentasse o trágico destino de figura tão amistosa. Os mais decididos circulavam de carro pela região. E foi um desses que Luiz Antônio reconheceu no sinal, de dentro da viatura que agora o levava até o seu local de trabalho. Calmamente, sem reparar no olhar perplexo do amigo, apenas cumprimentou:
- Grande Joel! Tranquilo?