ASSALTO NOSSO DE CADA DIA

e souza

Após um dia de intenso trabalho, Erasmo foi ao mercado a fim de comprar algumas coisas para seu jantar. Andou muito, passeou entre as gôndolas, olhou rótulos, preços, fez contas, comparou valores e foi para o setor de congelados, retornou às bebidas fermentadas, e escolheu quatro latinhas, comprou também um quilo de linguiças. Já na área de panificação escolheu alguns pães, e pensou em seguir seu caminho para casa, mas a música ambiente era tão relaxante que resolveu ficar mais um pouco e passear nos corredores. Pouco tempo depois foi para o caixa que exibia o aviso “Caixa Rápido”, (que demorou paca!) e foi para sua casa. Em uma rua próxima foi abordado por dois elementos que anunciaram o assalto e diziam estar armados, ele não viu a arma, mas para que duvidar, se é bem melhor concordar?

O mais alto chegou dizendo: “Aí tio, perdeu, passa a grana.” - Mas eu não tenho nenhuma. “Contra outra cara.” - Não tenho mesmo! “Como não tem, se tem sacolinha do mercado?” - Pois é, fui assaltado lá também. “Sem gracinha tio, o que que tem aí dentro?” - Minha janta. “Tua não, agora é minha e do parceiro aqui.” - Mas eu só tenho isso pra comer. “Nóis eu e o mano aqui não tinha nada, agora tem.” - Tái seu erro devia tratar melhor seus clientes, se não eles mudam de caminho... Péra aí, eu não sou seu cliente. “É verdade tio, agora se é fregueis, nóis vamos leva, depois se compre de novo.” (disse o menor). - Ele fala! (Até aquele momento Erasmo pensava que o rapaz fosse mudo) “Ae irmão, tá aprendendo, aaah mulhéque!” - Eu não tenho dinheiro. “Num tem, num tem, vai trabalhá.” - Eu já trabalho. “Então tio, pede aumento.” - Tá difícil. “Num tá contente cum emprego arruma outro.” – Não é tão simples assim, já tenho mais de 30. “Então tio, tá f... Agente vai dá linha.” – Não vai não, nós vamos continuar esta conversa. “Tio sê tá de brincadeira cum nóis, minha vida num é esse marzão de... de... (virou-se para o menor e perguntou) “Aí é marzão de que memo?”“ Eu que sei você inventa e eu que tenho que lembra?!”“ Tio é marzão de qualqué coisa que combina cum rosa.” – É não deve ser muito fácil mesmo! “Nóis pode se trombá outra noite aí nóis troca idéia, hoje tá embaçado, pro sê vê, eu e esse aí vamo trabalhá à noite toda, tem que leva o leitinho das criança...” – Você tem filhos? “Maió belezura tio, tem umas foto aqui.” (explicou que eram três uma de três, cinco e dez anos e que elas estavam na escolinha). “Aí gosto?”–Lindas! “É meus xodó, tio o papo tá legal, mais nóis tem que se manda, porque passa os homi e vai moiá o nosso trabáio.” Eles já haviam guardado tudo dentro dos bolsos e com as sacolinhas nas mãos quando o som de um celular quebrou o silêncio da despedida e eles se entreolharam e... “Tio, é o meu ou o teu?”– Sei lá, os dois estão no seu bolso.

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E Souza
Enviado por E Souza em 12/11/2013
Reeditado em 04/01/2015
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