JOGAR PARA PERDER



Vivo a dizer, impertinente até, que a grande maioria das pessoas vive a jogar para perder. Sim, é como se existisse uma loteria, em que você comprasse um bilhete – pagando caro – e se fosse sorteado teria que pagar um determinado valor. Ao invés de receber um prêmio, teria que pagar um prêmio.

Você compraria um bilhete de loteria com essas regras? Você entraria num jogo onde a vitória lhe imporia uma pena, um custo, um ônus?

Eis que as relações humanas estão se transformando num jogo para perder.

Num ambiente social ou profissional – até mesmo familiar – que agrega um número razoável de pessoas, o vírus que adoece e enfadonha a harmonia, notadamente, são as fofocas. Se esse grupo contar com 50 pessoas e essas 50 forem consultados sobre o problema que mais causa desarmonia, responderão unanimemente que são as fofocas.

Em resumo, todos apontam a fofoca como um problema e todos a praticam. Todos a condenam e todos intimamente, a idolatram, ou, no mínimo, não conseguem controlar seus impulsos. Uns a praticam de forma premeditadamente leviana, outros simplesmente por não conseguir controlar a língua. Alguns o fazem para ostentar poder, outros para vender furtivamente a imagem de solícitos, prestativos.

Fico me perguntando, constantemente, das origens, das justificativas psicossociais, desse gosto, dessa necessidade, desse mau hábito, desse vício de fazer fofocas, maculando a imagens de outros ou simplesmente distorcendo e/ou amplificando, potencializando negativamente informações sobre pessoas ou fatos?

E imagino se existisse a “fofoca do bem”. Imaginem comigo... Fofoca para o bem, através da qual somente se enaltecesse, somente se valorizasse, somente se potencializasse o lado positivo das pessoas? Imaginem a fofoca do bem, sendo utilizada vastamente, para espalhar informações positivas, elogios, reconhecimento sobre atitudes positivas das pessoas ao redor?

Sim, a fofoca do bem sim, seria assim como jogar para ganhar. A fofoca pura e simples, esse vírus nocivo ao relacionamento de grupos, quem a pratica somente corre o risco de perder. Perder credibilidade, perder amizades, perder imagem, perder, perder, perder.

A fofoca do bem, o elogio, o comentário positivo, o reconhecimento de valores, essa sim permitiria ao fofoqueiro do bem, ganhar. Seria assim o ganha x ganha. A fofoca na sua essência, é o famoso perde x perde, ou a loteria do ônus. Não do bônus.

Não quero, não pratico o jogo em que arrisco só a perder. Aceito a derrota, a perda, mas desde que haja chance de ganhar. Se não existe essa oportunidade, não jogo. Todas as minhas ações são para ganhar alguma coisa. Que seja o simples prazer de servir, de ajudar. Não faço nada em troca de nada e muito menos quando o único retorno possível é a perda.
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 12/11/2013
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