A DIVINA COMÉDIA DA VIDA PÚBLICA PALMEIRENSE III
O filósofo estadunidense Marshall Berman em seu livro "Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: a aventura da modernidade", diz o seguinte sobre o nosso tempo:
“O mundo da via expressa, o meio ambiente moderno que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, atingiria o pináculo de poder e autoconfiança nos anos 60(...) Os fomentadores e adeptos do mundo da via expressa o apresentavam como o único mundo moderno possível: opor-se a eles e a suas obras era opor-se à própria modernidade, fugir à história e ao progresso, tornar-se um ludita, um escapista, um ser temeroso da vida e da aventura, da transformação e do crescimento. Essa estratégia pareceu eficaz porque, na realidade, a vasta maioria dos homens e das mulheres modernos não pretende resistir à modernidade: eles sentem a sua excitação e creem na sua promessa, mesmo quando se veem em seu caminho.”
A Modernidade tinha suas exigências e as pessoas só a seguiam e a seguem, nada mais. A Modernidade era e é necessária, ou melhor, se impõe como necessária, uma vez que os anseios e pretensões, também, exigiam e exigem tal afirmação. Dessa forma, percebemos que nessa sociedade em que vivemos muito mais importa "o presente contínuo, o consumismo e a velocidade", o mundo da via expressa - do que o mundo concreto, real. Fugir ao progresso? “Nem pensar”! Quanto mais o novo se apresenta mais e mais mudanças exige para a sociedade, mesmo que estas mudanças não passassem de uma fantasia ingênua e irrealizável.
E, em ano de Eleições, o consumo agora é outro... É a “valorização”. “Valorize o seu voto... Vote pela sua cidade... Vote limpo...” Ou, “Guerreiro não foge à luta!” (Mesmo quando mostra um cadeirante tendo que subir uma escadaria – pois na propaganda, o guerreiro não vê obstáculos – nota-se que não tem acessibilidade alguma, mas o cadeirante é mostrado e incentivado a sorrir e subir; sabe-se lá como, porque ele precisa valorizar o seu voto). Estas são algumas chamadas das muitas propagandas do TSE, para as eleições 2012. O voto é a expressão maior da democracia? Errado! O povo e não o voto é que é a verdadeira expressão da democracia – Ele, o Povo é que é soberano... Pois é o voto que é a expressão do povo e não o contrário. É por isso que, quando os homens e mulheres não aprenderem a saírem da zona de conforto – porque vivem numa via expressa contínua, consumindo imagens e adorando seres que só se lembram deles a cada quatro anos – vai sempre aparecer outros homens e mulheres dispostos a ajuda-los, e a tomar as decisões por eles, não para eles.
Em pleno século XXI, vivemos ainda numa idolatria às classes dominantes. Pobres não votam em pobres. Mas em senhores e senhoras Feudais, que possuem suas terras, suas sestas básicas, suas vontades, suas esperanças, seu voto e até suas vidas. Somem-se a isso os sorrisos largos, os afagos, abraços e aos discursos populistas. Como elucidou George Orwell em sua obra-prima, A Revolução dos Bichos – um libelo contra a alienação e uma crítica ferrenha ao totalitarismo stalinista no século XX: “... À verdade é que o povo sempre (grifo nosso) estava de acordo com, aquele que falava no momento.” As pessoas estão acostumadas a esquecerem das coisas importantes, tão rápido quanto à necessidade que elas mesmas têm de viver a modernidade.
Numa sociedade onde invertemos um dos princípios que norteia nossa Carta Magna, porque colocamos o particular acima do coletivo, trocamos nossa liberdade por favores e promessas. Onde quem nos representa é um reflexo de quem ou do que nos tornamos. Pois, se a política e o Brasil estão feios é porque nós somos feios. Ou talvez porque já não mais nos reconhecemos, como nas últimas linhas da Revolução dos Bichos: “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.” Por isso mesmo o jargão do jornalista e escritor/historiador Eduardo Bueno é tão oportuno: “POVO QUE NÃO CONHECE A SUA HISTÓRIA ESTÁ CONDENADO A REPETI-LA”. E alguém já se perguntou: qual minha participação, nos últimos quatro anos, com agente histórico, político, como cidadão?